Eu vivo com HIV/AIDS desde 1997. A minha história com o vírus você jamais verá nas mídias ditas e pseudo profissionais. Até porque as mesmas não se interessam por pessoas que, "como eu, fazem parte da maioria absoluta que não distorce a realidade", para lacrar, influenciar, ganhar notoriedade, likes e monetizar. Eu sou um vencedor!

CADEIRAS VAZIAS

"Em memória àqueles que
 já não estão mais conosco"

Quando eu era criança, na época de natal perguntava para minha mãe:

O que a senhora quer de presente?

Ela sempre me dizia:

Saúde, e que ninguém falte no próximo ano!

Então eu a retrucava:

Não mãe, um presente de verdade.

Hoje, eu percebo que ela tinha razão!

Os presentes não são nada, não têm nenhuma importância...

Se as cadeiras estiverem vazias!


AUTOR(A): Não sei quem é o(a) autor(a) desse texto. Caso você seja o(a) mesmo(a), por favor me informe para que eu possa dar os devidos e justos créditos.

AIDS: 40 ANOS DE UMA PANDEMIA QUE NÃO ACABOU

Castelo da Fiocruz iluminado de
 vermelho em alusão ao Dia Mundial
de Luta contra a Aids

Valentina nunca viu uma pessoa morrer de Aids. Não teve tempo de ser fã do Cazuza, tampouco ouviu falar do Betinho e sua campanha contra a fome nem assistiu aos filmes do Rock Hudson. Quando ela nasceu, nos anos 2000, as propagandas na televisão e nos pontos de ônibus já anunciavam que "a vida podia ser positiva com ou sem Aids, mostrando como era possível viver bem com HIV".

Quando fez seu primeiro exame de sangue, o uso de seringas descartáveis já era parte da rotina dos serviços de saúde e, embora ela provavelmente nem saiba, caso tivesse precisado de transfusão ou hemodiálise, "encontraria bancos de sangue com um controle sanitário muito mais rígido do que aqueles que levaram a tantas contaminações nos anos 1980".

Com vida sexual ativa, Valentina nem sequer se lembra da última campanha pública que lhe fez pensar sobre o uso do preservativo. "Como tem mais medo de uma gravidez precoce do que de contrair Aids, a pílula anticoncepcional faz mais parte da sua vida do que a camisinha".

Ao contrário da personagem que abre esta reportagem, Jefferson Campos é uma pessoa real. Hoje com 30 anos, ele recebeu o diagnóstico de HIV positivo em 2018, quando tinha 27. Cientista social com atuação na área da saúde, ele considera que era muito bem informado sobre o assunto, tanto que fazia testes periódicos, o que permitiu que descobrisse a infecção logo no começo, e, na maioria das vezes, usava preservativo nas relações sexuais. "Campos diz que sua geração chegou a pegar algumas campanhas mais fortes de prevenção à Aids, mas ele percebia que os parceiros mais jovens, na casa dos 20 anos, tinham uma atitude mais frouxa em relação à prevenção". Quando o parceiro era da minha faixa etária, não tinha discussão, [o preservativo] estava ali. Se eu não demandasse, ele iria demandar o uso da proteção. "Já com uma galera mais jovem, essa demanda não vinha", relata.

A sobreposição dessas duas histórias serve para mostrar que, na verdade, Valentina não é apenas uma personagem fictícia: ela é uma tentativa de concentrar em um único nome características que os entrevistados desta reportagem reconhecem em boa parte da geração mais jovem, herdeira do sucesso que a ciência mundial e a política brasileira conquistaram no combate à Aids. "Trata-se de uma parcela da população que nunca teve contato com a sentença de morte que a contaminação pelo HIV significou durante muito tempo".

Adicionalmente, vive num contexto em que a perna da prevenção, que sempre foi parte fundamental da Política Nacional de Aids, anda enfraquecida, com poucas campanhas e trabalhos de base, contribuindo para um cenário de profunda desinformação. "A gente trabalhava a questão de prevenção e da promoção da saúde muito mais do que se faz hoje em dia. Há uma deterioração da área de prevenção do HIV e das doenças sexualmente transmissíveis [DSTs]", lamenta a infectologista Nemora Barcellos, professora da Unisinos e integrante da Comissão de Política, Planejamento e Gestão da Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

O fato é que esse retrato da juventude em relação à Aids pode parecer confortável diante da real queda na taxa de mortalidade da doença, mas talvez essa seja uma análise superficial. Primeiro porque, como vários testemunhos nesta reportagem vão mostrar, não é indiferente viver com ou sem HIV. "Segundo porque, dependendo da classe social e das condições de vida das muitas Valentinas que existem por esse país afora, o risco de morte não deixou de existir".

Viver com HIV

"No início a gente só tinha o AZT e o DDI, que era uma bola redonda enorme. Eu tive muito problema com a adesão, no princípio, porque os tratamentos causavam muitos efeitos colaterais: diarreias, o AZT deixava a pele das pessoas escura... Eu cheguei, numa época, a tomar 21 comprimidos por dia! Tinha comprimido para impedir que o HIV entrasse na célula, outro para impedir que ele se reproduzisse, outro para impedir que circulasse no sangue... Era uma loucura".

O relato é de Silvia Almeida, soropositiva há quase 28 anos. Hoje sua prescrição é de quatro comprimidos diários, uma exceção, que se deve ao fato de ela estar na chamada terapia de resgate. "O organismo pode se acostumar com a medicação e o HIV, por ser um vírus mutante, vai burlando, achando formas de se defender daquele medicamento. Mas isso vai muito também da questão da adesão: quanto mais você não tem adesão [ao tratamento], mais vai tendo brechas para que o vírus se proteja daquele medicamento", explica.

No que diz respeito à adaptação do vírus à medicação, Marcelo Soares, pesquisador em Aids que trabalha no Instituto Nacional do Câncer (Inca), ressalta que esse é um problema típico das pessoas que desenvolveram a doença há mais tempo, no começo da pandemia de Aids. "O HIV, de fato, muda muito. Como ele se replica rapidamente, da mesma forma que se torna resistente a uma resposta imunológica do próprio indivíduo ou a uma eventual vacina, ele também se torna resistente aos medicamentos", confirma. 

Mas pondera: "Com as drogas que são utilizadas hoje, para o vírus se tornar resistente, ele precisa acumular oito, nove mutações diferentes juntas, o que é difícil". O pesquisador explica que a medicação continua atacando o vírus em pontos diferentes das suas etapas de multiplicação, mas, diferente do tratamento que fez Silvia Almeida tomar mais de 20 comprimidos na década de 1990, "hoje esse coquetel normalmente é concentrado em uma única pílula".

De fato, com o desenvolvimento científico e tecnológico que levou à produção de medicamentos eficazes, sem efeitos colaterais imediatos e com uma administração mais simples, a capacidade de viver com HIV se tornou realidade. E não parou por aí: na continuidade das pesquisas, descobriu-se que o uso de medicamentos desde o momento do diagnóstico, sem precisar esperar o desenvolvimento da doença, era capaz de reduzir a carga viral a ponto de ela se tornar indetectável. 

"Daí surgiu a fórmula que transformou (para melhor) a vida social e afetiva das pessoas soropositivas: I=I (i é igual a i), o que significa que a carga viral indetectável é também intransmissível, ou seja, quem está nessa condição não repassa o HIV para outras pessoas". Isso porque, como explica Soares, os antirretrovirais conseguem conter a reprodução do vírus de modo que ele não possa chegar às partes periféricas do corpo, como sangue e sêmen. "É seguro. Já existe muita evidência científica. I é igual a I com certeza, não há mais nenhuma sombra de dúvida", garante.

O impacto dessa mudança na vida das pessoas soropositivas varia. Jefferson Campos relata que, embora não se sentisse na obrigação de informar sobre a sua soropositividade para os parceiros, já que, estando indetectável, ele não colocava ninguém em risco, muitas vezes decidiu contar a sua história, sobretudo nas relações com pessoas mais jovens, como forma de conscientizar sobre a importância da proteção. E ele diz que nunca houve uma desistência ou um afastamento em função dessa informação. "Depois que a pessoa entendia [o I=I], a coisa fluía, não se tornava um obstáculo", garante. 

Essa, no entanto, não é propriamente a regra, e talvez aqui também haja um corte geracional. Para Eduardo Barbosa, por exemplo, as coisas ainda são mais conflituosas. Ele contraiu o HIV no final da década de 1980 e teve a confirmação em 1994. "Quando eu descobri [o diagnóstico], fiquei uns quatro a cinco anos sem me relacionar com ninguém, sem ter relação sexual, morrendo de medo de transmitir. No momento presente isso é um misto, que vem e volta na cabeça da gente o tempo inteiro", relata. E completa: "Contar ou não é uma coisa ainda muito difícil. Na comunidade LGBT, a rejeição ainda é muito forte. À medida que você conta que tem HIV, mesmo que fale que é indetectável, vem o bloqueio. As pessoas têm informação, mas isso não mudou o comportamento".

Para Paulo Giacomini, jornalista e militante do movimento de Aids, que vive com o vírus há mais de três décadas, essa transição, depois de tantos anos com medo de contaminar as pessoas que se aproximavam, também não foi nada fácil. Ele relata que, hoje, sente desejo sexual e tem ereções sem qualquer dificuldade do ponto de vista físico, mas basta a relação começar a se concretizar e vir o toque para que não consiga ir adiante. "Isso não é físico, é psicológico, analisa, associando diretamente à sua condição de soropositivo".

As exigências do tratamento e a cura que ainda não veio

Mesmo nos muitos casos em que a fórmula I=I tem proporcionado situações mais felizes, é preciso não perder de vista que ela não é sinônimo de cura nem de eliminação do vírus do organismo: "o HIV continua armazenado em células que funcionam como uma espécie de reservatório, principalmente, no sistema nervoso central". O HIV infecta e insere o seu material genético dentro desses reservatórios anatômicos. E eles são refratários, inclusive, às drogas antirretrovirais, não são atingidos pela terapia. O vírus se insere no genoma das nossas células: "essa é a grande estratégia do HIV que faz com que a gente não consiga se livrar dele", explica Soares.

Por isso, "se o tratamento for interrompido", esses vírus escondidos se multiplicam rapidamente e voltam a circular pela corrente sanguínea e outras partes do corpo, tornando-se novamente detectável e transmissível. Além disso, enquanto uma pessoa soropositiva em tratamento contínuo não chega a desenvolver a doença, "o aumento da carga viral é um caminho aberto para o surgimento das infecções oportunistas que passam a atingir o corpo quando a Aids ataca o seu sistema imunológico. Mesmo com todo o progresso científico e tecnológico nessa área, portanto, a Aids continua não tendo cura e a prevenção e a vigilância precisam ser constantes".

E, por mais estranho que possa parecer, situações que levam a baixar a guarda são mais comuns do que se imagina. "Tomar remédio a vida inteira, todos os dias da vida, também não é fácil", testemunha Silvia Almeida. Eduardo Barbosa viveu essa experiência recentemente, no contexto da pandemia de Covid-19. Foi bastante desgastante para mim. Foi um período em que eu fiquei pensando na minha própria vida. E, mesmo com toda a consciência que eu tenho, com todo o meu trabalho de ativista militante, com a experiência de ter sido diretor de departamento de HIV/Aids, membro de ONG, eu relaxei com o meu acompanhamento. "Teve momentos em que me vi com depressão: eu não queria tomar medicação nenhuma".

Pela primeira vez na minha vida, desde que a gente instituiu [o tratamento como antídoto], fiz um exame de carga viral e deu 790 cópias, conta, relatando o espanto de, depois de 15 anos, deixar de ser indetectável. Se você tira o tratamento, esse pouquinho de células que está produzindo vírus começa a se replicar em níveis astronômicos. São milhões de partículas virais geradas por dia em um indivíduo infectado que não esteja sob tratamento. "Rapidamente você atinge a carga viral de novo em poucas semanas", explica Soares. Com a retomada do tratamento, como ocorreu com Barbosa, a carga viral volta a diminuir, também de forma veloz. "Para ser indetectável, a pessoa precisa ter menos de 40 cópias de vírus por mililitro de sangue no corpo".

Embora não tenham efeitos colaterais imediatos, como os que tornavam o quadro de infecção por HIV muito mais doloroso no início da pandemia, os medicamentos administrados hoje também demandam cuidados de curto a longo prazo. "Uma das consequências possíveis é uma perda óssea mais acelerada. Eu tenho uma preocupação maior de ter uma prática diária de exercício físico. Isso colocou para mim a necessidade de tomar mais consciência sobre o cuidado com o meu corpo", descreve Campos. Para quem experimentou as versões mais antigas dos remédios e se mantém em tratamento até hoje, as consequências são mais evidentes: numa cirurgia odontológica recente, Eduardo Barbosa perdeu os dentes superiores e tem dificuldade de fazer um implante dentário em função exatamente da perda óssea. "Por mais que a gente tenha hoje todo um arsenal de medicamentos e exames, que melhoram um pouco a qualidade de vida, a gente tem muitas sequelas", relata.

"A clareza de que não apenas a qualidade de vida como a própria sobrevivência depende de políticas públicas sobre as quais não se tem total controle é um fio condutor da experiência de quem vive com HIV"

E as eventuais dificuldades que podem surgir em relação ao tratamento não são só individuais. Embora ainda não haja dados sistematizados, pesquisadores e militantes da área suspeitam que o efeito da crise sanitária atual sobre o tratamento de HIV/Aids pode não ter se dado apenas em situações isoladas, como a de Eduardo Barbosa. "Temos fontes que relatam impactos complicados da pandemia de Covid-19 sobre a Aids", diz Veriano Terto Júnior, vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), citando, como exemplos, "casos de atrasos em consultas e resultados de diagnóstico, além da redução do número de testes. O atraso significa afastamento das pessoas do sistema de saúde. Ter perda de pessoas no sistema e abandono de tratamento pode ser um efeito que a [pandemia de] Covid-19 traga, gerando um aumento nos casos e mortalidade de Aids no Brasil", alerta.

A clareza de que não apenas a qualidade de vida como a própria sobrevivência depende de políticas públicas sobre as quais não se tem total controle é um fio condutor da experiência de quem vive com HIV. Essa foi, de alguma forma, a motivação da organização de movimentos sociais de pessoas soropositivas que, desde o final da década de 1980, passaram a pressionar, acompanhar e mesmo ajudar a executar a política de Aids. E, ainda hoje, esse sentimento pauta as trajetórias individuais. "Só o que me assusta é não ter acesso ao meu medicamento. Porque é isso que me dá tranquilidade de seguir vivendo, de que não vou ter nenhuma complicação em função do HIV", diz Jefferson Campos. 

Ele conta que, pelo grau de informação que sempre teve, desde que recebeu o diagnóstico do HIV, nunca sentiu medo de morrer. Sabia que tinha direito a um tratamento que é cientificamente seguro e capaz de lhe permitir uma vida sem maiores riscos em função da Aids, "mas sempre soube também que isso dependia da disponibilidade contínua das medicações que, se não fossem garantidas pelo Estado, seriam impagáveis para ele e para a maior parte da população". Campos reconhece que um direito já consolidado e garantido em lei é mais difícil de ser retirado, mas o momento da conjuntura nacional não lhe inspira segurança. A gente passou a ter uma instabilidade política no país, beirando o contexto do autoritarismo, e a visão histórica nos permite saber que determinados direitos, mesmo conquistados, podem ser desfeitos, afirma.

Com uma experiência pouco traumática, tratamento sem efeitos colaterais, acolhimento da família e amigos e nenhum caso de preconceito explícito em função da sua condição de soropositivo, Campos diz que, no geral, sua tendência é esquecer o HIV e seguir a vida. "Eu casei, somos sorodiscordantes [quando o parceiro não tem o vírus da Aids], queremos ter nossos filhos, temos projeto profissional e acadêmico. Nesse sentido, a vida segue normal. Mas eu tenho o pavor de que, por alguma instabilidade política, meu direito ao medicamento possa estar ameaçado", reforça. Além disso, diz, os projetos de futuro também dependem de estratégias que não podem desconsiderar a existência do HIV. Ele se deparou com essa questão recentemente, quando começou a planejar um doutorado no exterior. "Todos os lugares que eu pude pesquisar como possibilidade de vida acadêmica fora do país não têm acesso gratuito ao medicamento [de HIV]", diz. E questiona: Eu estou tranquilo porque tenho acesso ao meu tratamento. E se deixar de ter?.

Nessa busca, ele se deu conta ainda de outro problema: "países que impõem restrições à entrada de pessoas soropositivas. De acordo com um relatório da Unaids, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, em 2019, 11 países, territórios e áreas, entre eles Ucrânia e Indonésia, exigiam testes ou divulgação de estado sorológico de pessoas com HIV, baseando-se nesses resultados para proibir a permanência de curta ou longa duração. Outros 18, como Angola, Austrália, Cuba e Israel, impunham restrições de entrada, permanência ou residência, seguindo os mesmos critérios. Um terceiro grupo, que englobava 19 nações, se permitia deportar estrangeiros em função do HIV, aqui, Egito, Síria e Rússia são alguns exemplos".

E os entrevistados desta reportagem que vivem com HIV há muito tempo testemunham que essas barreiras não são apenas geográficas. "Hoje, se cuidando, você não precisa adoecer, não precisa desenvolver Aids, se fizer o seu tratamento com adesão normal. Tudo isso evoluiu. Mas a questão da discriminação e do estigma parece que ainda está paralisada lá atrás, há 40 anos", resume Silvia Almeida. Giacomini concorda: "Eu vejo jovens de 23, 25 anos que não viveram os anos 1980, mas que, quando recebem o diagnóstico, se remetem diretamente àquela cara da Aids que as pessoas tinham quando o Cazuza foi exposto na capa da Veja. O discurso de que se pegar não tem nada é diferente do impacto. E o impacto do diagnóstico ainda é o mesmo porque o estigma, o preconceito e a discriminação com as pessoas vivendo com HIV ainda são os mesmos". Exatamente por isso, segundo Eduardo Barbosa, a primeira bandeira de luta do movimento de Aids que sobrevive nos dias de hoje continua ser contra esse cenário. "O estigma ainda é muito forte", reforça.

Nem todos têm tratamento

Ao longo dessas quatro décadas, mais de 30 milhões de pessoas morreram de Aids no mundo e, ainda hoje, de acordo com Marcelo Soares, não existe um único país que não tenha casos da doença. De acordo com as Estimativas Globais de Saúde de 2019, produzidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), apesar do destaque para o crescimento dos problemas crônicos, como cardiopatias e diabetes, naquele ano a Aids ainda ocupava o 9º lugar no ranking das doenças que mais matam no mundo. Segundo Terto Júnior, "calcula-se, numa perspectiva conservadora, que cerca de 12 milhões de pessoas contaminadas não têm acesso a medicamentos. Isso significa que elas vão adoecer e morrer de Aids, lamenta, mesmo com todo o desenvolvimento científico e tecnológico pelo qual esse campo passou".

Também no Brasil, apesar de uma redução muito significativa, ainda se morre de Aids. Em 2019, último ano de que se tem dados oficiais concluídos, 10,5 mil óbitos foram registrados tendo a doença como causa básica. Se comparado à mortalidade que seguiu uma curva crescente até o começo do tratamento com antirretrovirais, em 1996, a queda é substantiva. O trauma da tragédia sanitária gerada pela pandemia atual, que, até o fechamento desta reportagem, tinha matado mais de 607 mil brasileiros,  também pode fazer esse número parecer pequeno.

"O HIV mata muito mais devagar, gera uma doença de ação e desenvolvimento prolongados, distingue Marcelo Soares, que compara: Já morreu quase dez vezes mais pessoas de HIV do que de Covid-19 no mundo até hoje e ainda vai continuar morrendo muita gente de HIV depois de a gente ter controlado a Covid". É verdade que, especificamente no caso do Brasil, hoje essa relação é invertida: em 20 meses morreu pelo novo coronavírus quase o dobro da quantidade de pessoas que vieram a óbito de Aids em 40 anos (pouco menos de 350 mil), o que, além de expressar a diferença de velocidade de ação das duas doenças, talvez reflita também a forma distinta como as duas pandemias foram enfrentadas no país.

Os parâmetros, portanto, precisam ser outros, principalmente a análise do que justifica a permanência da mortalidade por uma doença que, apesar de não ter cura, hoje é perfeitamente tratável. "Temos uma média de 27 a 30 pessoas morrendo de Aids diariamente no Brasil, alerta Veriano Terto Júnior, que completa: Isso dá a dimensão de que esse ainda é um problema grave de saúde pública". De acordo com o Sistema de Mortalidade do DataSUS, no bloco das doenças infecciosas e parasitárias, o HIV foi o responsável pela causa específica do maior número de mortes em 2020, com mais do que o dobro de óbitos da segunda causa, os dados, claro, ainda não contabilizam a Covid-19.

Uma das chaves para entender esse cenário talvez seja a mudança do perfil epidemiológico que a doença sofreu ao longo desses anos, não apenas aqui: diferente da imagem povoada por artistas e gente das classes altas da década de 1980, hoje a Aids atinge principalmente grupos e populações vulneráveis. Na verdade, segundo Terto Júnior, mesmo naquela época essa era mais uma imagem midiática do que um retrato da realidade. Por isso, levar o tratamento a todos os soropositivos e interromper os óbitos pela doença ainda são desafios no mundo e no Brasil. 

As preocupações se deslocaram, mas persistem do ponto de vista do número de infecções, da utilização dos serviços de saúde e da emergência diagnóstica, que permanece em função da alta mortalidade sustentada por diagnósticos tardios, resume Nemora Barcellos. Sobretudo depois do protocolo que determina o início do tratamento logo após o diagnóstico, o que, no Brasil, aconteceu em 2013, identificar a contaminação pelo HIV o mais rápido possível é fundamental para reduzir o risco e garantir uma vida melhor. Aliás, tal como os medicamentos, os testes para detecção de HIV também evoluíram muito e, além de estarem disponíveis nas unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), alguns fornecem o resultado na hora.

Hoje os números mais preocupantes dessa epidemia no Brasil recaem novamente sobre os homossexuais masculinos, classificados como HSH, homens que fazem sexo com homens. Mas nem de longe essa trajetória foi uma linha reta. Afinal, no Brasil e no mundo, o perfil epidemiológico da Aids sofreu muitas mudanças, chegando, em alguns momentos, "a escancarar os riscos que cercavam famílias heterossexuais e eram escondidos pelo preconceito: houve períodos em que mulheres casadas, em relacionamentos monogâmicos, foram focos principais de campanhas de informação sobre a doença, porque os números mostravam que elas estavam crescentemente sendo contaminadas pelos maridos que contraíam o vírus em relacionamentos extraconjugais".

De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde publicado em dezembro do ano passado, em 2019 apenas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste as relações homo e bissexuais foram responsáveis pela maioria das contaminações. Em todas as outras, ainda que com uma vantagem muito pequena, prevaleceram as transmissões pelas relações hetero. No consolidado nacional, no entanto, o crescimento maior se dá entre HSH: dados de 2018 mostravam que as infecções por HIV cresciam nesse segmento, atingindo 18,4%, uma proporção 46 vezes maior do que na população em geral.

Outros elementos ajudam a montar esse perfil: entre 2009 e 2019, também segundo o boletim do Ministério da Saúde, houve uma queda de 51% na proporção de casos entre pessoas brancas, enquanto, entre as negras, a diminuição foi de 36,4% e 17,6% entre as pardas. A faixa etária de 20 a 34 anos concentrou 52,7% dos casos entre 2007 e junho de 2020. Tanto o número de infecções quanto o de óbitos continuam mais altos no Sudeste, mas as diferenças regionais apontam uma maior mortalidade no Norte e Nordeste: enquanto a taxa de pessoas mortas por Aids no Brasil caiu de 5,8 para 4,1 por 100 mil habitantes entre 2009 e 2019, os estados do Acre, Pará, Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba tiveram aumento desses coeficientes.

O boletim do Ministério da Saúde destaca os casos do Acre, que dobrou esse número de 1,1 para 2,2 óbitos por 100 mil habitantes e, principalmente, o do Amapá, que subiu de 0,6 para 5,8. "Hoje em dia a Aids é caracterizada por [atingir] pessoas mais pobres, populações mais vulneráveis econômica e socialmente. Ela afeta mais negros do que brancos, como qualquer problema de saúde pública. E tem o agravante das identidades e comunidades sexuais, como populações de trans e prostitutas, que são muito impactadas pela Aids e têm um outro tipo de vulnerabilidade, pelos estigmas relacionados à sexualidade", resume Terto Junior.

Em relação à desigualdade regional, uma exceção que persiste nesse cenário é o Rio Grande do Sul. Numa tabela que lista a situação do HIV/Aids nas cidades com mais de 100 mil habitantes, a partir dos indicadores de taxa de detecção, mortalidade e primeira contagem de CD4 (células que vão sendo eliminadas pelo HIV e que, quando muito reduzidas, indicam que o diagnóstico não foi precoce), o boletim de 2020 do Ministério da Saúde mostra que seis dos 20 municípios com pior situação no ranking pertencem ao Rio Grande do Sul, de acordo com Nemora Barcellos, quase um quarto dos diagnósticos no estado identificam pessoas com CD4 inferior a 200, o que significa um estágio avançado da doença, que dificulta o tratamento. Também na hierarquia das capitais, Porto Alegre só está em situação mais desfavorável do que Belém. "No Brasil você tem diferentes epidemias. Tem uma epidemia que cresce no Norte, uma epidemia que nunca se reduziu na região Sul, duas regiões onde se mantém uma mortalidade persistente", resume.

Desafios da assistência

Tudo isso apesar do sucesso da Política brasileira de combate à Aids. E as razões são várias. Por um lado, Barcellos analisa que os serviços de saúde ainda não são ideais para o acompanhamento das pessoas soropositivas. Sem negar a importância da descentralização promovida pelo SUS, ela explica que a vantagem de se ter uma atenção básica territorializada, próxima da realidade do usuário, pode se tornar um obstáculo quando se trata de um diagnóstico de HIV. "A assistência se aproxima do indivíduo, mas isso tem alguns aspectos que não são totalmente favoráveis, principalmente pelo medo de ser reconhecido pela doença mais próximo de sua casa", explica Barcellos.

A preparação do sistema para uma efetiva articulação entre a atenção básica e as média e alta complexidade, além da relação indissociável entre prevenção e assistência, são outros desafios  que o SUS enfrenta para garantir uma melhor qualidade de vida aos pacientes de HIV/Aids, a socióloga Cristina Camara lembra, inclusive, que esse deveria ter sido um aprendizado para a pandemia de Covid-19, que enfrentou problema semelhante com a falta de leitos de internação, por exemplo. "As pessoas eram infectadas, adoeciam e morriam rápido, então você tinha que ter um contínuo do acompanhamento disso", explica Camara, referindo-se à pandemia de Aids. Eduardo Barbosa aponta um aspecto complementar: muitos que, como ele, sobreviveram à infecção tendo vivido a pior fase da epidemia, hoje demandam maior atenção especializada. "Eu preciso de otorrino, de oftalmo, de nutricionista, de endocrinologista... O SUS é o meu plano de saúde. E a falta de profissionais de saúde, a terceirização e precarização dos serviços são dificultadores", diz.

Desinformação e conservadorismo

Para além (e antes) da assistência, outra barreira que Barcellos identifica ao controle da Aids no Brasil hoje é o conservadorismo. "A iniciação sexual é muito mais precoce nas populações menos favorecidas, onde ainda há a cultura de que ter um filho é o que te faz adulta. Então, você teria que começar a trabalhar questões de sexualidade com dez anos pelo menos, defende, apontando a importância da educação sexual nas escolas e outros espaços. Mas o conservadorismo trabalha num outro sentido, ele argumenta que se você não fala você não estimula [no caso, o sexo], o que é uma inverdade absoluta", completa.

Terto Junior concorda: O conservadorismo crescente é um obstáculo principalmente para a prevenção, mas em certa medida também para o tratamento porque afasta as pessoas de procurarem ajuda. Atualmente, a Aids é uma doença basicamente de transmissão sexual. Num país onde a sexualidade tende a ser apagada das agendas institucionais e de governo, isso tem consequência para a transmissão. Sem poder falar sobre sexualidade a gente avança pouco, opina, reforçando que esse é um obstáculo também para o controle da sífilis e outras DSTs. Todo esse contexto conservador impede que se fale sobre saúde sexual e reprodutiva em escolas, na mídia, em vários locais, diz. E lamenta: Isso estimula a ignorância e quem paga são as pessoas mais vulneráveis. Quem vai ter a gravidez indesejada muitas vezes são meninas que já vêm de uma geração de outras mulheres que também tiveram gravidez indesejada e precoce.

Eduardo Barbosa também ressalta que esse cenário tem se agravado muito, mas ele alerta que a concessão ao conservadorismo já tinha começado a atravessar a política de Aids há mais tempo. E, nesse caso, seu testemunho é como ex-diretor do departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde no período de 2005 a 2013, onde, em nome da governabilidade, ele diz ter vivenciado situações de censura a materiais de campanha, voltados para prostitutas e público LGBT, ainda no governo Dilma Rousseff. Barbosa também relata que foi chamado a se explicar no Congresso Nacional sobre uma cartilha que tematizava a redução de danos para usuários de drogas e apresentava ilustração de uma relação sexual. Eu sempre acreditei no tripé assistência, prevenção e direitos humanos [para o combate à Aids]. Mas faz um tempo já que a gente descaracterizou essa parte dos direitos humanos, lamenta.

No caso específico da Aids, o vice-presidente da Abia destaca ainda o quanto esse contexto impede que as pessoas saibam que existem outras formas de prevenção além do preservativo. Ele se refere principalmente à Prep, sigla para Profilaxia Pré-Exposição, que consiste em pessoas que não têm o HIV tomarem, preventivamente, uma combinação de duas das drogas usadas no tratamento dos soropositivos. "É como se fosse uma barreira porque, como você já está com a droga no organismo, na hora em que o vírus tenta invadir, as chances de ele ser neutralizado são altíssimas", explica Soares. Como parte da política brasileira de Aids, os medicamentos da Prep também são fornecidos pelo SUS. "Tem que discutir com esses jovens que existem outros métodos [de prevenção] para que eles sejam mais autônomos. Mas o ideal seria que essas escolhas fossem melhor informadas, fossem escolhas mais conscientes. E não é o que a gente tem visto", resume.

FONTE: FIOCRUZ

DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A AIDS: 8 MITOS QUE JÁ FORAM DERRUBADOS

Infecções pelo vírus HIV são um problema grave para a saúde a nível global, já que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 36,3 milhões de pessoas já perderam a vida por causa da doença.

Em 2020, 680 mil pessoas morreram de causas relacionadas ao HIV e 1,5 milhão de pessoas contraíram o HIV, segundo dados da OMS atualizados em novembro de 2021. No fim de 2020, havia mais de 37 milhões de pessoas vivendo com o vírus, sendo mais de dois terços delas na África, segundo as estimativas.

Desde o primeiro ciclo de expansão da Aids, na década de 1980, todo tipo de desinformação e mitos alimentou o preconceito e o estigma sobre como é ser contaminado e viver com o HIV. Estar infectado com o vírus é a única maneira de ser diagnosticado com a doença. No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, realizado sempre em 1º de dezembro, desmistificamos algumas dessas afirmações equivocadas.

1º Mito: É possível contrair o vírus estando perto de pessoas HIV positivo

Essa informação falsa tem fomentado a discriminação contra pessoas soropositivas há muito tempo. E, apesar de todas as campanhas de conscientização, em 2016 cerca de 20% das pessoas no Reino Unido ainda acreditavam que o HIV podia ser transmitido por contato pele a pele ou por meio da saliva. "Mas ele não se espalha pelo toque e nem por meio de lágrimas, suor, saliva ou urina".

Perto de alguém que seja HIV positivo, não é possível que você seja contaminado ao:

- Respirar em um mesmo ambiente;

- Abraçar, beijar ou apertar as mãos;

- Dividir itens de alimentação;

- Compartilhar uma fonte de água potável;

- Usar equipamentos comuns na academia;

- Tocar em um assento de vaso sanitário ou uma maçaneta.

"O HIV é transmitido por meio da troca de fluidos corporais com indivíduos infectados, como sangue, sêmen, fluido vaginal e leite materno".

2º Mito: Remédios alternativos podem curar a Aids

Nada verdadeiro. Terapias alternativas, tomar banho depois do sexo ou transar com uma virgem, elementos que aparecem no universo da desinformação a respeito do tema, não surtirão efeito contra o HIV. O mito da "limpeza virgem", que se espalhou na África subsaariana, em partes da Índia e da Tailândia, é particularmente perigoso. Ele levou ao estupro de meninas muito jovens e, em alguns relatos, até mesmo de bebês, também colocando-os sob risco de contrair o HIV.

Acredita-se que o mito tenha raízes na Europa do século 16, quando as pessoas começaram a contrair sífilis e gonorreia. A falsa terapia também não funciona para estas doenças. Quanto a orações e rituais religiosos, embora possam ajudar as pessoas a lidar com situações difíceis, eles não têm efeito medicinal sobre o vírus.

3º Mito: Mosquitos podem espalhar o HIV

Embora o vírus do HIV seja transmitido por meio do sangue, diversos estudos mostram que você não pode contraí-lo ao ser picado por insetos que se alimentam do sangue humano. Isso por dois motivos:

1) Quando os insetos mordem, eles não injetam na próxima vítima o sangue da pessoa ou animal que morderam antes;

2) O HIV vive apenas por um curto período de tempo dentro deles.

"Então, mesmo que você more em uma área com muitos mosquitos e com alta prevalência de HIV, as duas coisas não estão relacionadas".

4º Mito: Não se contrai o HIV via sexo oral

É verdade que os riscos de infecção por meio do sexo oral são menores do que em outras modalidades. A taxa de transmissão é inferior a quatro casos em 10 mil atos sexuais. "Mas você pode contrair o vírus fazendo sexo oral com um homem ou uma mulher que seja HIV positivo, e é por isso que os profissionais de saúde sempre recomendam o uso de preservativos".

5º Mito: Não serei contaminado se usar preservativo

Os preservativos podem falhar em evitar a exposição ao HIV se eles rasgarem, escorregarem ou vazarem durante o ato sexual. É por isso que campanhas preventivas bem-sucedidas não são aquelas que simplesmente levam as pessoas a usarem camisinhas, mas que as estimulam a fazerem o teste de HIV. "Segundo a OMS, 1 em cada 4 pessoas infectadas não sabe que tem essa condição, algo em torno de 9,4 milhões de pessoas, representando um grande risco de transmissão. Os preservativos ajudam a prevenir a transmissão do HIV e protegem contra outras doenças sexualmente transmissíveis".

6º Mito: Sem sintomas, sem HIV

Um indivíduo pode viver 10 ou 15 anos com o HIV e não apresentar sintomas. Após a infecção inicial, soropositivos podem também experimentar situações semelhantes a gripes, com febre, dor de cabeça ou garganta, não identificando o motivo real para estas manifestações fisiológicas. Outros sintomas podem surgir ainda à medida que a infecção ataca progressivamente o sistema imunológico: inchaço nos gânglios linfáticos, perda de peso, febre, diarreia e tosse. "Sem tratamento, o quadro pode avançar ainda para doenças graves, como tuberculose, meningite criptocócica, infecções bacterianas e cânceres, como linfomas e sarcoma de Kaposi, entre outros".

7º Mito: Pessoas com HIV morrerão jovens

Pessoas que sabem ser soropositivas e que aderem ao tratamento vivem cada vez mais de forma saudável. A Unaids (programa das Nações Unidas de combate à doença) diz que 47% de todos os soropositivos têm uma carga suprimida do vírus, ou seja, com a chamada terapia antirretroviral, reduzem a quantidade de HIV a um nível que torna o vírus indetectável em exames de sangue.

"Pessoas com supressão da carga viral não transmitem a doença, mesmo fazendo sexo com pessoas HIV negativas. No entanto, se interromperem o tratamento, os níveis de HIV podem se tornar detectáveis ​​novamente".

Segundo a OMS, 21,7 milhões de pessoas vivendo com o HIV estavam em tratamento antirretroviral em 2017, contra 8 milhões em 2010, "o que representa cerca de 78% das pessoas soropositivas que sabem de seu diagnóstico".

8º Mito: Mães com HIV sempre infectarão os filhos

Não necessariamente. "Mães com vírus suprimido podem ter bebês sem transmiti-lo".

FONTE: BBC NEWS

A CADA 2 MINUTOS UMA CRIANÇA É INFECTADA PELO HIV NO MUNDO

"Johanesburgo/Nova Iorque, 29 de novembro de 2021: O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgou nesta segunda-feira um relatório mostrando que uma criança a cada dois minutos foi infectada pelo HIV em 2020. Outras 120 mil crianças morreram de causas relacionadas à Aids durante este mesmo período, o que equivale a uma criança a cada cinco minutos".

O relatório chamado "HIV and Aids Global Snapshot", concluiu que a pandemia prolongada da Covid-19 tem aprofundado desigualdades que agravam a epidemia de HIV, diminuindo o acesso a prevenção e tratamento das doenças. "A epidemia de HIV entra em sua quinta década em meio a uma pandemia global que sobrecarregou os sistemas de saúde e restringiu o acesso a serviços vitais. Enquanto isso, o crescimento da pobreza, problemas de saúde mental e abuso estão aumentando o risco de infecção de crianças e mulheres, disse a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore".

Outros dados divulgados são que duas em cada cinco crianças vivendo com HIV em todo o mundo não sabem sua condição, "e que pouco mais da metade das crianças com HIV está recebendo tratamento antirretroviral (TARV)". Discriminação e desigualdade de gênero foram apontados como barreiras ao acesso adequado aos serviços de HIV.

O relatório salientou que muitos países viram interrupções significativas nos serviços de HIV por causa da Covid-19 no início de 2020. "Os lockdowns também foram a causa de agravamentos da epidemia, devido a picos na violência de gênero, acesso limitado a cuidados de acompanhamento e falta de estoque de produtos essenciais". Países com alta prevalência da doença diminuíram em 50% a 70% os testes de HIV infantil, e as novas iniciações de tratamento para crianças menores de 14 anos caíram entre 25% e 50%.

Outros dados que diminuíram em vários países foram o número de partos em unidades de saúde, testes de HIV maternos e início de tratamento antirretroviral para HIV. Em um exemplo extremo, a cobertura de TARV (Terapia Anti-retroviral) entre mulheres grávidas caiu drasticamente na Ásia Meridional em 2020, de 71% para 56%.

Os sistemas de saúde pelo mundo se voltaram para a Covid-19, o que aumentou as lacunas na resposta global ao HIV, de acordo com o relatório. Embora a adoção de serviços tenha se recuperado em junho de 2020, os níveis de cobertura permanecem muito abaixo daqueles de antes da covid-19, e a verdadeira extensão do impacto permanece desconhecida.

No que se diz respeito ao tratamento de HIV, "as crianças e os adolescentes foram os mais negligenciados em todas as regiões na última década". O relatório mostrou que a cobertura global de TARV para crianças está muito atrás de gestantes (85%) e adultos (74%). Ainda segundo os dados, o maior percentual de idade de crianças recebendo TARV está na Ásia Meridional (+ 95%), seguido pelo Oriente Médio e Norte da África (77%), Leste da Ásia e Pacífico (59%), África Oriental e Meridional (57%), América Latina e Caribe (51%) e África Ocidental e Central (36%).

"Reconstruir melhor em um mundo pós-pandêmico deve incluir respostas ao HIV que sejam baseadas em evidências, centradas nas pessoas, resilientes, sustentáveis e, acima de tudo, equitativas, disse Fore. Para fechar as lacunas, essas iniciativas devem ser realizadas por meio de um sistema de saúde reforçado e do envolvimento significativo de todas as comunidades afetadas, especialmente as mais vulneráveis".

Dados adicionais de 2020 incluídos no relatório:

* 150 mil crianças de até 9 anos foram infectadas pelo HIV, elevando o número total de crianças nessa faixa etária vivendo com HIV para 1,03 milhão.

* 150 mil crianças e adolescentes com idades entre 10 e 19 anos foram infectados pelo HIV, elevando o número total meninas e meninos nessa faixa etária vivendo com HIV para 1,75 milhão. 

* 120 mil meninas adolescentes foram infectadas pelo HIV, em comparação com 35 mil meninos.

* 120 mil crianças e adolescentes morreram por causas relacionadas à aids; 86 mil de até 9 anos e 32 mil entre 10 e 19 anos.

* Na África Oriental e Meridional, as novas infecções anuais entre adolescentes diminuíram 41% desde 2010, enquanto no Oriente Médio e Norte da África, as infecções aumentaram 4% no mesmo período.

* 15,4 milhões de crianças perderam um ou ambos os pais devido a causas relacionadas à aids no ano passado. Três quartos dessas crianças, 11,5 milhões, vivem na África ao sul do Saara. As crianças órfãs por causa da aids representam 10% de todos os órfãos em todo o mundo, mas 35% de todos os órfãos vivendo na África ao sul do Saara.

“Reconstruir melhor em um mundo pós-pandêmico deve incluir respostas ao HIV que sejam baseadas em evidências, centradas nas pessoas, resilientes, sustentáveis e, acima de tudo, equitativas”, disse Fore. “Para fechar as lacunas, essas iniciativas devem ser realizadas por meio de um sistema de saúde reforçado e do envolvimento significativo de todas as comunidades afetadas, especialmente as mais vulneráveis”.

FONTE: UNICEF

DOVATO - NOVO MEDICAMENTO DE DOSE ÚNICA DIÁRIA CONTRA HIV É APROVADO PELA ANVISA

A ANVISA autorizou o registro do Dovato, um medicamento de regime completo composto por duas medicações (Dolutegravir 50 mg e Lamivudina 300 mg) em dose única diária, ou seja, em um único comprimido, para o tratamento de HIV em adultos e adolescentes acima de 12 anos de idade, com peso mínimo de 40 kg.

Desenvolvido pela GSK/ViiV Healthcare, Dovato reduz a quantidade de antirretrovirais usados pelos pacientes por possuir apenas duas medicações, enquanto ainda mantém a eficácia e a alta barreira à resistência de regimes tradicionais com mais medicamentos.

"Hoje, muitos tratamentos para o HIV de um único comprimido têm pelo menos 3 medicamentos diferentes combinados. Já o Dovato fornece resultados expressivos com apenas dois medicamentos em um comprimido, demonstrando através de estudos, ser igualmente tão eficaz quanto tratamentos para o HIV com 3 ou 4 medicamentos. Isso significa: manutenção da eficácia, com menor utilização de medicamentos e menor potencial de toxicidade", explica dr. Rafael Maciel, gerente médico da GSK/ViiV Healthcare.

Um recente estudo divulgado na 18ª Conferência Europeia de Aids (EACS 2021), avaliou a eficácia, segurança e tolerabilidade do medicamento em pacientes que receberam Dovato conforme a prescrição de seus médicos. Chamado de URBAN, o estudo mostrou que a combinação de Dolutegravir e Lamivudina teve bons resultados no controle do vírus do HIV em um ano, sem casos de desenvolvimento de resistência. Em relação à segurança, os riscos de efeitos adversos graves e descontinuações foram baixos.

Para Vani Vannappagari, Chefe Global de Epidemiologia e Evidência do Mundo Real da GSK/ViiV Healthcare, esses dados fortalecem a apresentação de Dovato para pessoas que vivem com HIV. "A GSK/ViiV Healthcare se dedica ao desenvolvimento de medicamentos que atendam às necessidades das pessoas vivendo com HIV e os achados apresentados neste estudo destacam o importante papel do regime de duas drogas baseados em Dolutegravir como viável e duradouro, demonstrado como opções de tratamento em ensaios clínicos e na prática clínica do mundo real, tanto para aquelas pessoas virgens de tratamento, tanto para aqueles que já estão virologicamente suprimidos".

Dovato é um medicamento completo, de dose única diária, podendo ser tomado até mesmo em jejum, para o tratamento de HIV em adultos e adolescentes acima de 12 anos de idade, com peso mínimo de 40 kg, sem histórico de resistência ao Dolutegravir ou à Lamivudina. É composto por duas moléculas. O Dolutegravir 50 mg atua ao impedir que o DNA viral se integre ao material genético das células humanas. A Lamivudina 300 mg age interferindo na conversão do RNA viral em DNA, impedindo assim a multiplicação do vírus. A aprovação do Dovato é apoiada pelos estudos globais de referência GEMINI 1 e 2 que incluíram mais de 1.400 adultos vivendo com HIV, e pelos resultados do estudo TANGO, apresentados na Conferência Internacional da Sociedade de Aids sobre Ciência do HIV 2021 (IAS 2021).

Aproximadamente metade das pessoas que vivem com HIV e fazem uso de terapia antirretroviral utilizam Dolutegravir em seus tratamentos. O dolutegravir 50mg foi introduzido no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2016 e, atualmente, é distribuído a mais de 400 mil pacientes, o que representa cerca de metade das pessoas em tratamento contra o HIV atendidas pelo SUS. Segundo dados atuais do Ministério da Saúde, aproximadamente 936 mil pessoas vivem com HIV no Brasil, sendo que 88% estão diagnosticadas, destas 71% encontram-se em tratamento com antirretroviral e destas 63% estão com supressão viral.

Para o dr. Rafael, é muito importante que as pessoas diagnosticadas com HIV iniciem o tratamento o mais rápido possível e façam o correto uso de antirretrovirais, como forma de garantir o controle da infecção e prevenir a evolução para a aids. "A boa adesão à terapia antirretroviral traz grandes benefícios individuais, entre outros fatores, a ampliação da expectativa de vida e o não desenvolvimento de doenças oportunistas".

CIÊNCIA RELATA 2° CASO DE PACIENTE CURADA DE HIV SEM TRATATAMENTO

O caso de uma mulher que se curou de HIV sem qualquer tipo de tratamento foi recentemente relatado por pesquisadores no periódico científico Annals of Internal Medicine.

A mulher que tem sido chamada de paciente Esperanza, para preservar o anonimato, "não apresenta mais nenhum traço do vírus em mais de 1 bilhão de células sanguíneas retiradas dela".

"O caso é extremamente raro". O primeiro registro de alguém que também parece ter erradicado completamente o vírus "sem a utilização de antiviral ou de transplante de medula óssea foi uma mulher de 67 anos chamada Loreen Willenberg". No ano passado, os cientistas declararam que ela teve uma cura funcional, "que é quando o corpo luta e vence uma infecção naturalmente". Tanto Loreen, quanto essa segunda paciente que não teve o nome divulgado são tidas como controladoras de elite, que ao que tudo indica: "possuem um sistema imunológico que consegue manter o HIV sob controle sem tratamento. Os pesquisadores acreditam que possam ter outros casos de pessoas curadas naturalmente, mas que  ainda não sabem disso".

Essas descobertas, especialmente com a identificação de um segundo caso, "indicam que pode haver um caminho acionável para uma cura esterilizante para pessoas que não são capazes de fazer isso por conta própria", disse o pesquisador Xu Yu, membro do Ragon Institute of MGH, MIT e Harvard.  A esperança dos pesquisadores é entender os mecanismos imunológicos desses pacientes para assim desenvolver tratamentos que ensinem o sistema imunológico de outras pessoas a imitar essas respostas em casos de infecção pelo HIV.

Durante a infecção, o HIV (vírus causador da Aids) coloca cópias de seu genoma no DNA das células, criando o que é conhecido como reservatório viral. Nesse estado, o vírus efetivamente se esconde dos medicamentos anti-HIV e da resposta imunológica do corpo. Na maioria das pessoas, novas partículas virais são constantemente feitas desse reservatório. "A terapia antirretroviral (Tarv) pode prevenir a produção de novos vírus, mas não pode eliminar o reservatório, necessitando de tratamento diário para suprimir o vírus".

Algumas pessoas, conhecidas como controladores de elite, têm sistemas imunológicos capazes de suprimir o HIV sem a necessidade de medicamentos. Embora ainda tenham reservatórios virais que podem produzir mais vírus HIV, um tipo de célula imune chamada célula T assassina mantém o vírus suprimido sem a necessidade de medicação.

FONTE: GOOGLE NOTÍCIAS

GINECOLOGISTA CRIA 1ª CAMISINHA UNISSEX DO MUNDO

Um ginecologista, na Malásia, criou o que chama de a “primeira camisinha unissex do mundo”, que pode ser utilizada tanto por mulheres, como por homens. O preservativo é feito com um material médico geralmente utilizado para curativos de lesões e ferimentos.

Seu criador espera que a camisinha, chamada de Wondaleaf Unisex Condom, empodere as pessoas a terem um melhor controle de sua saúde sexual, independentemente do seu gênero ou de sua orientação sexual. “É basicamente um preservativo normal com uma cobertura adesiva”, explica o ginecologista da empresa de suprimentos médicos Twin Catalyst, John Tang Ing Chinh, e complementa: “É um preservativo com uma cobertura adesiva que se fixa à vagina ou ao pênis, além de cobrir a área adjacente para proteção extra”. A parte adesiva é aplicada apenas em um lado do preservativo, ressaltou o ginecologista, o que significa que pode ser revertido e usado por qualquer sexo.

Cada caixa do Wondaleaf contém dois preservativos e custará 14,99 ringgit malaio, o equivalente a cerca de 20 reais. O preço médio de uma dúzia de preservativos tradicionais na Malásia varia entre 20 e 40 ringgit. Tang fez os preservativos usando poliuretano, um material usado em curativos transparentes que é fino e flexível, mas também resistente e à prova d’água. “Depois de colocar, muitas vezes você não percebe que está lá”, disse o médico, referindo-se aos curativos feitos com o material.

O ginecologista afirmou ainda que o Wondaleaf passou por diversas rodadas de pesquisas clínicas e testes, e estará disponível comercialmente no site da empresa em dezembro. “Com base no número de testes clínicos que conduzimos, estou bastante otimista de que, com o tempo, será um acréscimo significativo aos muitos métodos anticoncepcionais usados na prevenção de gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis”, finalizou Tang.

Fonte: Reuters

DR. ESPER KALLÁS: VIVER COM HIV NÃO É CRIME!

"DR. ESPER KALLÁS É MÉDICO INFECTOLOISTA, PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE MOLÉSTIAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS, E PESQUISADOR DA USP"

Há alguns anos, fui consultado sobre um caso de uma pessoa que, supostamente, tentava transmitir sexualmente o HIV. Isso aconteceu pois descobriu-se que vivia com o vírus, depois de terem sido encontradas receitas médicas em sua gaveta, nas quais constavam os remédios do coquetel de tratamento. O delegado responsável por investigar a denúncia, até então, tendia a aceitar a abertura do processo.

Criminalizar alguém por estar infectado pelo HIV ainda é um grave problema em vários países do mundo, incluindo o Brasil. Ao menos 92 países têm leis específicas ou suficientemente vagas que permitem responsabilizar judicialmente uma pessoa que vive com o vírus por manter relações sexuais. A situação torna-se ainda mais grave pois a maioria das pessoas vivendo com HIV pertence a grupos populacionais socialmente mais vulneráveis.

Em relações sexuais consensuais, uma pessoa que vive com HIV precisa, obrigatoriamente, revelar seu status sorológico para o parceiro?

A resposta é NÃO!

Sustentando esta posição, seguem algumas ponderações:

- Em relação à prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, "ter uma relação sexual consensual traz responsabilidades para todos que dela tomam parte".

- O tratamento com o coquetel de antirretrovirais é altamente eficaz no controle da multiplicação do HIV, permitindo que as pessoas consigam manter o HIV indetectável no sangue. COMO CONSEQUÊNCIA, DEIXAM DE TRANSMITIR O VÍRUS POR VIA SEXUAL. 

- Em diversos, extensos e repetidos estudos, os resultados são contundentes: "pessoas que compõem casais cujo parceiro sexual vive com HIV e tem vírus indetectável não se infectaram, mesmo com relações sexuais sem proteção por camisinha masculina ou feminina. Como resultado, uma pessoa que vive com o HIV e está indetectável é um parceiro sexual mais seguro em uma relação sexual desprotegida do que alguém que não sabe se tem o vírus. Daí o conceito de INDETECTÁVEL= NÃO TRANSMISSOR".

- A recomendação é partilhada pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids (Unaids), que também sugere aos países respeito à confidencialidade das pessoas que vivem com o vírus, auxiliando no combate ao preconceito e favorecendo o acesso aos serviços de saúde. Continuar criminalizando pessoas somente porque vivem com o HIV trilha o caminho inverso.

- Comparando HIV aos demais agentes de infecções sexualmente transmissíveis, nota-se que estes também podem levar a consequências potencialmente graves. Por exemplo, a sífilis, na forma terciária, pode comprometer órgãos e sistemas, inclusive as funções neurológicas. A gonorréia pode levar à infertilidade. O HPV pode levar a câncer genital, especialmente em mulheres. "Não há, nestas circunstâncias, o mesmo movimento de imputação de culpa por ter ocorrido transmissão por sexo".

Ao contrário de criminalizar as pessoas que vivem com HIV, é preciso fortalecer os serviços de saúde para promoção da prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, facilitar acesso a testes para agentes transmissíveis por via sexual e assegurar tratamento com remédios do coquetel antirretroviral aos que vivem com o HIV. Cabe, aqui, discutir uma campanha que esclareça melhor à sociedade o conceito "indetectável = não transmissor".

Já passou da hora de resolver esse problema de saúde pública e, também, de direitos humanos!

Fontes: Folha de São Paulo - Agência de Notícias da Aids

NOVO TRATAMENTO PODE REDUZIR NECESSIDADE DE MEDICAÇÃO DIÁRIA CONTRA O HIV

Uma nova combinação de tratamento para o HIV pode fortalecer a resposta imunológica de um paciente contra o vírus, mesmo após interromper os medicamentos tradicionais, de acordo com um estudo publicado na revista Science Immunology.

Pessoas com HIV tomam uma combinação de medicamentos anti-HIV para reduzir a quantidade de vírus que têm em seu corpo. Quando tomados conforme prescrito, esses medicamentos, chamados coletivamente de terapia antirretroviral, podem reduzir a quantidade de vírus no corpo a níveis indetectáveis. 

Essa terapia antirretroviral "deve ser administrada diariamente para que o vírus tenha menor probabilidade de sofrer mutação e se tornar resistente aos medicamentos".

Embora reduzir a quantidade de vírus no corpo a níveis indetectáveis, "signifique que ele não pode mais ser transmitido, os medicamentos antirretrovirais mais eficazes são incapazes de eliminar completamente o vírus". Isso ocorre porque o HIV se esconde em áreas imunologicamente privilegiadas do corpo, como certas partes do tecido linfóide, que são menos acessíveis ao sistema imunológico para protegê-las de danos. "As células T assassinas, que procuram e eliminam as células infectadas, são incapazes de patrulhar esses reservatórios virais que abrigam o HIV".

A exposição constante ao vírus pode levar as células T assassinas a um estado de exaustão em que não funcionam tão bem. As células T assassinas exauridas exibem mais de uma proteína chamada PD-1, que funciona como um "interruptor para sua atividade de matar". Uma maneira de reverter a exaustão das células T assassinas é bloquear o interruptor de desligamento PD-1, mas isso não eleva a resposta do sistema imunológico ao vírus. Por outro lado, uma vacina contra o HIV pode aumentar significativamente a imunidade contra o vírus.

Então, "testamos se a combinação dessas duas táticas poderia melhorar o controle da infecção pelo HIV". Administramos uma vacina para o SIV, um primo próximo do HIV, com um medicamento que bloqueia a PD-1 em macacos rhesus infectados com SIV e tratados com terapia antirretroviral. Descobrimos que nossa abordagem gerou uma resposta antiviral robusta em várias partes do corpo, "incluindo locais com privilégios imunológicos nos nódulos linfáticos, e permitiu que as células T assassinas se infiltrassem e eliminassem os reservatórios virais. Mais importante ainda, os macacos mantiveram uma forte imunidade contra o vírus mesmo depois de interromperem a terapia antirretroviral, e melhoraram significativamente sua sobrevida".

"Nenhum dos sete macacos no grupo de tratamento combinado desenvolveu aids durante nosso período de acompanhamento de seis meses, em comparação com metade dos macacos que receberam apenas a vacina ou terapia antirretroviral isolada". Por que isso importa?

Cerca de 38 milhões de pessoas em todo o mundo estavam vivendo com o HIV em 2020. Se não for tratado, ele pode paralisar o sistema imunológico e deixar o corpo vulnerável a infecções normalmente inofensivas. "Existem problemas de acessibilidade com o tratamento, que deve ser tomado diligentemente todos os dias para a vida toda". Um estudo de 2015 estimou que o custo vitalício da terapia antirretroviral para alguém que contrai o HIV aos 35 anos é de US$ 358.380. "E muitas pessoas não têm acesso à terapia antirretroviral diária. Cerca de três quartos dos adultos com HIV na África Subsaariana não atingem a supressão viral persistente devido à falta de disponibilidade de tratamento". Além disso, "embora a terapia antirretroviral possa suprimir completamente a infecção pelo HIV, ela não a cura. Sempre existe o risco de o vírus sofrer mutação e se tornar resistente aos medicamentos disponíveis". O que ainda não se sabe?

Eliminar completamente o HIV do corpo é uma forma de acabar com a necessidade de terapia antirretroviral diária. Mas uma estratégia mais viável é colocar as células infectadas sob controle. Atualmente, "apenas 0,5% dos indivíduos HIV positivo são considerados controladores de elite, capazes de suprimir a infecção sem medicação". Embora nosso estudo tenha mostrado um caminho potencial para controlar o HIV, ele ainda está em desenvolvimento e não está pronto para pacientes humanos. Mais pesquisas são necessárias para entender como os reservatórios virais se formam e por que certas células respondem de maneira diferente a certas imunoterapias. 

Próximos passos: Uma única forma de terapia pode não resultar na remissão completa do HIV. Nossa equipe está testando outras combinações de medicamentos para liberar todo o potencial do sistema imunológico e superar as barreiras para a cura.

FONTE: THE CONVERSATION

INDETECTÁVEL=INTRANSMISSÍVEL - A GRANDE MUDANÇA NA VIDA DE CASAIS COM HIV

"Indetectável = intransmissível - I = I"

Essa abreviação provocou uma verdadeira revolução no âmbito do HIV. E não somente do ponto de vista clínico, mas, especialmente, de uma perspectiva humana: "devido ao estigma da rejeição pelo outro, os soropositivos sempre tiveram que lidar com a angústia e a ansiedade de saber que suas relações sexuais e afetivas estariam marcadas pelo medo de infectar o seu parceiro". E falamos de uma revolução fundamentada tanto na análise clínica, como na evidência científica:

"Que demonstra que uma pessoa soropositiva cuja carga viral é indetectável, isto é, mais de 95% de quem segue corretamente o tratamento antirretroviral, não pode transmitir o vírus".

Essa ideia não é realmente nova, explica o médico associado do Serviço de Medicina Interna Infecciosa do Hospital de La Princesa, em Madrid, na Espanha, e coordenador médico da organização 'Apoyo Positivo', Lucio J. García Fraile: "Havia muitos estudos que sugeriam isso, mas, por precaução, não se falava tão explicitamente. Sempre havia alguma objeção a eles, sempre parecia haver algum preconceito. Até que a evidência científica fosse esmagadora".

García Fraile se refere aos estudos internacionais que demonstraram que, em casais sorodiscordantes, em que apenas um dos indivíduos é soropositivo, não houve transmissão do HIV ao soronegativo quando a carga viral da pessoa com o vírus estava indetectável há seis meses ou mais. A carga viral é considerada indetectável quando o número de partículas de HIV em um mililitro de sangue está abaixo de 50.

"No início, os estudos eram pequenos, mas agora as evidências são muito sólidas, com milhares de pessoas sendo acompanhadas durante anos", explica a chefe de Seção da Unidade de HIV do Hospital Ramón y Cajal, em Madrid, María Jesús Pérez Elías, que acrescenta: "Essas evidências sinalizam que não houve nenhum caso de transmissão do HIV em relações sexuais sem preservativos, inclusive em práticas que consideramos especialmente de risco".

"Já não é possível contestar os resultados. Os estudos foram feitos em vida real, em casais reais, em todos os tipos de relações e com todos os tipos de práticas sexuais. E podemos dizer que indetectável é igual a intransmissível, complementa García Fraile".

No entanto, esta informação ainda não foi ecoada nem difundida socialmente, lamenta a mediadora de Saúde Sexual da 'Apoyo Positivo', Marina Hispán Alonso. E é nesse ponto que entra em jogo a campanha I = I, que começou nos Estados Unidos há cinco anos e se tornou uma comunidade global em crescimento, reunindo ativistas e pesquisadores e estendendo-se a mais de 100 países. "Seu propósito é, baseado na evidência científica, orientar e tranquilizar pessoas com HIV (e, por extensão, seus amigos, parceiros e familiares) sobre poderem viver sem se preocupar em transmitir a infecção. Desde que, evidentemente, estejam em tratamento e tenham uma carga viral indetectável".

"Conscientizar que, graças aos medicamentos, é possível que tenham relações sexuais sem medo da transmissão. É muito importante para a visão alheia, mas também para o olhar interno: um diagnóstico de HIV envolve um processo de luta e de aceitação, no qual causa muito desconforto pensar que você pode ser um perigo para seus parceiros. Por isso, o tratamento antirretroviral não é bom apenas para a saúde física, mas também para a mental e emociona", explica a mediadora.

Marina vive com HIV. Por meio de seu trabalho como ativista e na organização 'Apoyo Positivo', ela logo teve conhecimento sobre os estudos que estavam sendo realizados e que ela, por estar com carga viral indetectável, não poderia transmitir o vírus a seus parceiros. "Vivi muitas situações desagradáveis, mas, quando conheci meu atual parceiro, sabia que havia superado minha luta e tinha a informação correta. Eu lhe informei sobre o que é viver com HIV e o que é ser indetectável. Com carinho e amor, seguimos em frente e nos apoiamos", conta ela.

Porém, o medo, em muitos casos, continua ali. Pedro, por exemplo, é soronegativo e não consegue ter relações sexuais sem proteção, por mais que Miguel, seu parceiro e soropositivo, esteja há anos com carga viral indetectável. "Só me traz estresse e ansiedade, não vale a pena para mim. O preservativo não é algo que me limita, nos dá segurança", explica Pedro. Ele conta ainda que ambos se surpreenderam muito, "quando o médico lhes informou que, se quisessem, poderiam deixar de utilizar a camisinha.Tantos anos ouvindo o contrário… que acabamos internalizando e fica difícil aceitar", reconhece Miguel".

Fica difícil também para aos médicos, reconhece Pérez Elías: "Para nós que estamos há 30 anos explicando a nossos pacientes a importância de se ter relações sexuais com preservativo, mudar a mensagem não tem sido fácil. E para eles ocorre o mesmo: ficam com aquilo queimando no cérebro. Mas é importante admitir que I = I, e tomar um tempo para explicar isso bem".

O médico García Fraile acrescenta: "A mensagem, do ponto de vista biomédico e social, é positiva. Permite que essas pessoas tenham uma vida sexual tranquila, prazerosa e plena. Muitas vezes, elas vivem com o medo do que aconteceria se o preservativo romper. Nós temos na cabeça um perfil da pessoa soropositiva como alguém irresponsável, mas essa é uma minoria. A maior parte da comunidade está muito consciente".

Essa mudança na mensagem acontece, portanto, individualmente, como um casal, e socialmente. O movimento I = I insiste que se trata de uma oportunidade para transformar a vida das pessoas com HIV: transforma sua vida social, sexual e reprodutiva; ataca o estigma e fortalece o empoderamento, além de reduzir a ansiedade e incentivar a continuação do tratamento antirretroviral.

"Esse último ponto, sobre continuar o tratamento, é crucial. Porque, caso não seja devidamente seguido, a carga viral voltará a subir e, em consequência, voltará a ter a capacidade de ser transmitida. Outro aspecto importante é a mensagem de que estar indetectável só diz respeito ao HIV".

"Difundimos uma mensagem que não se conhecia, a de que I = I e que o tratamento antirretroviral nos garante exclusivamente que não transmitiremos o HIV, mas não garante o mesmo para as outras infecções e doenças transmitidas sexualmente, adverte Marina Hispán em referência a ISTs como hepatite C, sífilis, gonorreia, entre outras".

FONTE: AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA AIDS

PESQUISADORES DESENVOLVERAM MEDICAMENTO QUE PODE SER A CURA FUNCIONAL PARA O HIV

Pesquisadores da Escola de Medicina Lewis Katz da Universidade Temple, nos Estados Unidos, desenvolveram um medicamento que pode ser a cura funcional para o HIV. Nos últimos sete anos, os cientistas trabalharam em uma tecnologia de edição de genes baseada em CRISPR para tratar a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. "A terapia conhecida como EBT-101 foi aceita pela Food and Drug Adminstration (FDA) dos Estados Unidos como medicamento investigacional, o que possibilita o início de ensaios clínicos de fase 1 e 2, ou seja, a primeira etapa dos testes em humanos".

Nos estudos pré-clínicos, os cientistas liderados pelo professor Kamel Khalili, do departamento de Neurociência, conseguiram extinguir com a técnica o DNA pró-viral (material genético do vírus inserido na célula) dos genomas de células humanas infectadas com HIV. Este vírus é especialmente difícil de ser combatido porque eles infectam células cruciais do sistema imunológico, se tornando invisíveis para os mecanismos de defesa do nosso corpo. Quando a infecção pelo HIV avança, o paciente desenvolve a Aids, doença caracterizada pelo enfraquecimento do sistema imunológico.

Em colaboração com Tricia H. Burdo, professora do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Inflamação, os pesquisadores descobriram ainda que a tecnologia de edição de genes pode eliminar o SIV, um vírus intimamente relacionado ao HIV, dos genomas de primatas não humanos. Os testes clínicos serão iniciados e gerenciados pela Excision BioTherapeutics, empresa que tem experiência no desenvolvimento de remédios baseados em CRISPR contra doenças virais infecciosas. "Os ensaios clínicos destacam uma sucessão bem orquestrada de descobertas de pesquisas acadêmicas da Temple, agora com a tradução [dessas descobertas] para o tratamento de pessoas que vivem com a infecção pelo HIV-1, torna o desenvolvimento mais empolgante", disse Kamel Khalili em entrevista ao portal da universidade.

CRISPR é o acrônimo do termo em inglês "Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats", que em português seria "Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Interespaçadas". Esta tecnologia usa uma estratégia parecida com a realizada por bactérias diante de um vírus que as ataca: "elas copiam o DNA do invasor e guardam em sua memória e, em um próximo ataque, utilizam a proteína Cas9 para cortar um pedaço do material genético viral para impedir que o vírus se reproduza, evitando assim a infecção".

Desenvolvida pelas cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, que ganharam o Prêmio Nobel de Química de 2020 por conta da criação deste sistema de edição genética, a técnica consiste em dar à Cas9 a parte o DNA que deve ser modificada. Após identificar este fragmento de material genético, a proteína consegue tirar das células humanas a sequência do DNA apresentado. Isto pode ser usado no tratamento doenças de origem genética: "a Cas9 substituiria o fragmento de DNA doente por outro saudável ou apenas retiraria esta parte e deixaria os genes se recuperarem sozinhos".

A técnica já é usada em estudos que buscam desenvolver remédios contra vários tipos de câncer, como no ovário, cérebro e pulmão. "Estudos em humanos devem começar nos próximos anos. É uma técnica fantástica e pode sim ser uma das novas armas contra o câncer", aposta Fernando Maluf, oncologista do hospital Israelita Albert Einstein.

Por ser um sistema de edição genética, o uso indevido da CRISPR provocou a prisão do geneticista chinês He Jiankui que criou dois bebês geneticamente modificados em 2018. Ele usou a técnica para modificar o gene CCR5, usado pelo vírus HIV para atacar o sistema imunológico. Este gene responde também à ativação do cérebro no combate de outras infecções, como a gripe. Cientistas relacionam a remoção deste gene a uma melhoria da memória e criação de novas conexões. A situação gerou a criação de uma comissão internacional que publicou um documento afirmando que a ciência ainda não consegue garantir que a edição genética via CRISPR não cause efeitos colaterais no futuro, inclusive em "humanos aprimorados".

Os avanços do tratamento do HIV:

A realidade de um paciente diagnosticado com HIV nos dias de hoje é bem diferente daquela vivida por quem descobriu ser soropositivo na década de 1980. "Se antes a infecção era sinônimo de morte, atualmente os pacientes em tratamento vivem uma rotina normal. Isso graças à evolução dos remédios". Os antirretrovirais atuais evitam que o HIV se replique ao nível de desencadear a Aids. Além disso, os novos medicamentos provocam menos efeitos colaterais, o que dá significativa melhoria da qualidade de vida para os pacientes. 

O tratamento é gratuito e oferecido pelo SUS. Quando seguido corretamente, os níveis do vírus no corpo ficam imperceptíveis. Viver com HIV agora já se assemelha a conviver com uma doença crônica, no qual é preciso manter um tratamento diário para manter a infecção sob controle e evitar seus malefícios. Além do tratamento pós infecção, há também um protocolo profilático conhecido como PrEP, que consiste em tomar dois antirretrovirais como forma de evitar que as células sejam invadidas pelo vírus caso haja contato com ele. Este tratamento é indicado para grupos suscetíveis ao vírus, como profissionais do sexo e pessoas que têm relações sexuais sem camisinha com pessoas soropositivas que não fazem tratamento adequado.

Mas nem tudo é promissor contra o vírus. "No início de setembro, os estudos de uma vacina experimental contra o HIV foram encerrados após dados mostraram que a proteção oferecida pelo imunizante ao organismo era insuficiente. Fabricada pela Johnson & Johnson, a vacina apresentou apenas 25% de eficácia".

Fonte: Agência de Notícias da Aids

CASOS DE HIV DIFICULTAM COMBATE À COVID NA ÁFRICA E AUMENTAM RISCO DE SURGIMENTO DE NOVAS VARIANTES

"Com o maior número de casos de HIV do mundo, a África do Sul enfrenta desafios ainda mais complicados para combater a pandemia de coronavírus, o que aumenta o risco de que novas variantes apareçam e se espalhem para outros países.".

Muitos dos 8,2 milhões de pessoas infectadas pelo HIV no país estão imunocomprometidas, "e cientistas dizem que podem abrigar o coronavírus por mais tempo, permitindo que o vírus sofra mutações enquanto se reproduz". Um estudo com uma mulher HIV positiva de 36 anos mostrou que o coronavírus permaneceu em seu organismo por 216 dias e sofreu uma rápida mutação.

"Há boas evidências de que a infecção prolongada em indivíduos imunocomprometidos é um dos mecanismos para o surgimento de variantes da SARS Covid-2".

Disse Túlio de Oliveira, professor de bioinformática que dirige instituições de sequenciamento de genes em duas universidades sul-africanas, durante uma conferência sobre imunologia em 30 de agosto. "Você tem essa evolução em massa do vírus, acumulando mais de 30 mutações". Em meio à batalha mundial contra variantes do coronavírus, a vacinação de pessoas infectadas pelo HIV na África do Sul é fundamental.

"A recente descoberta de outra mutação no país, após a identificação da variante beta no fim do ano passado, mostra o risco de não acelerar a vacinação com urgência. O problema é que a maioria das pessoas infectadas pelo HIV na África do Sul são pobres e marginalizadas". 

Muitas vivem em áreas remotas e não tiveram acesso às campanhas de vacinação. Com muitas vacinas, as doses são mais do que suficientes para imunizar os 40 milhões de adultos do país, o problema da África do Sul agora é aplicá-las nos que mais precisam delas. Velocidade e cobertura são importantes para garantir que as pessoas HIV positivas sejam vacinadas, disse Glenda Gray, presidente do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul e colíder do grupo sul-africano do ensaio da vacina da Johnson & Johnson. A África do Sul foi o país mais atingido no continente africano pelo coronavírus, com cerca de 2,9 milhões de casos confirmados. O número de excesso de mortes mostra que mais de 250 mil pessoas faleceram durante a pandemia, ou uma em cada 240 sul-africanos.

Fonte: Bloomberg

COVID TEM IMPACTO DEVASTADOR NA LUTA CONTRA HIV, TUBERCULOSE E MALÁRIA

A pandemia Covid-19 teve "um impacto devastador" na luta contra o HIV, TUBERCULOSE E MALÁRIA em 2020, de acordo com um relatório divulgado pelo Fundo Global nesta quarta-feira.

Para marcar nosso 20º aniversário, esperávamos focar o relatório deste ano nas histórias extraordinárias de coragem e resiliência que tornaram possível o progresso que alcançamos contra o HIV , tuberculose e malária nas últimas duas décadas, disse Peter Sands, Diretor Executivo do Fundo. "Mas os números de 2020 forçam um foco diferente. Eles confirmam o que temíamos que pudesse acontecer quando a Covid-19 atacasse. O impacto da Covid-19 na luta contra o HIV, tuberculose e malária e as comunidades que apoiamos foi devastador.

Pela primeira vez na história do fundo global, "os principais resultados programáticos retrocederam. Houve declínios significativos nos serviços de teste e prevenção de HIV, disse o fundo". Em comparação com 2019, o número de pessoas alcançadas com prevenção e tratamento do HIV caiu 11% no ano passado, enquanto o teste de HIV caiu 22%, impedindo o novo tratamento na maioria dos países. No entanto, o número de pessoas que receberam terapia antirretroviral para o HIV em 2020, aumentou 8,8 por cento para 21,9 milhões "apesar do Covid-19".

O impacto da pandemia de coronavírus na luta contra a tuberculose em todo o mundo foi similarmente "catastrófico". O número de pessoas tratadas para tuberculose resistente a medicamentos nos países onde o Fundo Global investe caiu "espantosos 19%, com aqueles em tratamento para tuberculose extensivamente resistente registrando uma queda ainda maior de 37%". O fundo calculou que cerca de 4,7 milhões de pessoas foram tratadas para tuberculose em 2020, "cerca de um milhão a menos do que em 2019".

As intervenções para combater a malária "parecem ter sido menos afetadas pela Covid-19 do que as outras duas doenças". Graças às medidas de adaptação e à diligência e inovação dos agentes comunitários de saúde, as atividades de prevenção permaneceram estáveis ​​ou aumentaram em comparação com 2019. O número de redes mosquiteiras distribuídas aumentou 17% para 188 milhões e as estruturas cobertas por pulverização residual interna aumentaram 3%.

No entanto, o Fundo Global, que reúne governos, agências multilaterais, parceiros bilaterais, grupos da sociedade civil, pessoas afetadas pelas doenças e o setor privado, "disse que sua resposta rápida e determinada à Covid-19 impediu um pior resultado". Em 2020, o fundo desembolsou US$ 4,2 bilhões para continuar a luta contra o HIV, tuberculose e malária e aprovou US $ 980 milhões adicionais em financiamento para responder à Covid-19.

O Fundo, desde que foi criado em 2002, "salvou 44 milhões de vidas e o número de mortes causadas por AIDS, tuberculose e malária diminuiu 46% nos países onde investe. 4,7 milhões de pessoas foram tratadas para tuberculose em 2020, cerca de um milhão a menos do que em 2019".

FONTE: AFP

(Tradução por: Alexandre Gonçalves de Souza)

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS BARATAS

Após mais de 63 anos de vida, eu que não sou especialista em porra nenhuma, me atrevo a afirmar que existe uma raça de barata que é indestrutível e se perpetua independente da sua própria vontade.

Na realidade ela se eterniza pelas mãos daqueles que deveriam exterminá-la!

O pior de tudo é que esses mesmos que deveriam exterminá-la, pagam, sustentam e garantem as passadas, presentes e futuras gerações dessa raça!

A pergunta que nunca é respondida: Por que essa raça não é exterminada?

Ora, se essa ela DEPENDE DE VOCÊ para nascer, crescer, sobreviver, procriar e se perpetuar, NO PODER. O que lhe impede de enterrá-la para sempre?

Medo?

Covardia?

Conivência?

Cumplicidade?

Ou será que a explicação é essa:

A SUA ÍNDOLE é exatamente igual a dela!

Com a palavra, VOCÊ, que continua colaborando para que essa raça jamais seja extinta. 

USP PARTICIPARÁ DE REDE GLOBAL PARA ENCONTRAR A CURA DA AIDS

A Faculdade de Medicina e o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) irão participar de uma rede global de pesquisa que pretende encontrar a cura definitiva para a infecção HIV, o vírus causador da aids, por meio de engenharia genética. A nova abordagem de combate ao vírus buscará o bloqueio completo do HIV dentro das células e sua posterior eliminação.

As últimas décadas representaram avanços muito importantes no tratamento e controle do HIV e AIDS. “Mas o paciente segue precisando se tratar continuamente e o risco de agravamento em caso de interrupção permanece. Esta nova abordagem significará um passo fundamental. Poderá ser, finalmente, a cura do HIV”. Destacou o professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP, Esper Kallás, que coordenará o grupo brasileiro.

“Atualmente, o combate ao HIV é feito principalmente com o uso de medicamentos retrovirais, que precisam ser tomados pelos pacientes por toda a vida. No entanto, essas drogas não eliminam o vírus que está circulante no sangue, mas atua com menor intensidade nas células infectadas”.

Com a nova abordagem proposta pela pesquisa, os cientistas buscarão maneiras de bloquear e trancar o HIV dentro das células, deixando-o inativo, o que deverá ser feito com drogas que agirão no material genético do vírus. A ideia é encontrar os caminhos para modificar o vírus dentro da célula a ponto de destruí-lo, eliminando-o do paciente.

A rede, conhecida em inglês como HIV Obstruction by Programmed Epigenetics (HOPE) Collaboratory, é liderado por Gladstone Institute, Scripps Research Florida e Weil Cornell Medicine, e receberá investimentos de U$ 26,5 milhões para desenvolver a pesquisa. Após cumpridas as fases experimentais iniciais pela rede de pesquisas, ensaios clínicos deverão ser conduzidos no Hospital das Clínicas da FMUSP.

Fonte: Agência Brasil

MÉDICA DESABAFA: ESTOU CANSADA DE DIAGNOSTICAR HIV EM MULHERES FIÉIS AO MARIDO!

"Homens, se vocês vão chifrar as esposas de vocês, pelo menos encapem a p… do pau quando forem comer alguém. Estou cansada de dar diagnóstico de HIV pra mulher jovem, gestante, casada há anos e que é fiel ao marido. Se vai f… com a vida de alguém, f… só com a tua, irmão".

Sou médica infectologista em Santarém, no Pará, e publiquei esse desabafo, que viralizou no Twitter. Trabalho no Centro de Tratamento e Acolhimento (CTA) do município e todo dia a gente tem casos novos de HIV. No dia desse desabafo nas redes sociais, eu atendi uma grávida, creio que de sete ou oito semanas de gestação. Era o seu primeiro filho e estava acompanhada da mãe, uma senhora de quase 70 anos.

Eu vi essa mulher muito angustiada no ambulatório. Como era a primeira consulta dela, sempre buscamos acolher ao máximo. Perguntamos como está, a maneira como acredita que pegou o vírus, para quem ela vai contar e por aí vai. Durante a conversa, descobri que era professora, na faixa dos 30 anos, casada há cinco anos e que nunca teve uma relação extraconjugal. Foi uma paciente bem aberta.

Ela descobriu o HIV naquele dia. Tinha ido ao posto de saúde iniciar o pré-natal, e com um teste rápido positivo, a enviaram para o centro de referência para confirmar. Repetimos o exame e confirmamos. Ela ainda não tinha nem chegado em casa para falar com o marido.

Me formei há seis anos na Universidade Estadual do Pará (UEPA) e, desde que me formei, tenho oportunidade trabalhar com pessoas que vivem com HIV, antes como generalista, e há quase dois anos como especialista. Durante esse tempo histórias assim se repetem e me revoltam.

"Infelizmente, é um tipo de diagnóstico que ainda acontece muito: o da mulher que está há muito tempo com o homem que tem relações extraconjugais desprotegidas".

Há padrões de descoberta da infecção. O das que descobrem quando o marido já está muito doente, em fase de Aids, e que muitas vezes vai a óbito. E as que testam positivo no pré-natal da gestação. Poucas descobrem por meio de exames de rotina, o que acende o alarme para como estamos fazendo como profissionais da saúde na Atenção Primária ou nos consultórios da Ginecologia, por essas mulheres.

O representante máximo do governo atual culpa quem se infecta e atribui a epidemia de HIV no Brasil a quem tem "comportamentos sexuais diferenciados". Trata nossos pacientes como uma despesa ao SUS (Sistema Único de Saúde), e tira completamente o foco de investimentos em campanhas de prevenção e conscientização.

"Enquanto isso, 'pais de família' infectam suas esposas apoiados no falso moralismo vigente em nossa sociedade".

Estamos em 2021 e ainda tem gente que acredita piamente no mito de que não pode sentar no mesmo lugar, usar o mesmo banheiro ou compartilhar o talher com uma pessoa que vive com HIV. Estamos falhando como seres humanos ao não combater isso, estamos falhando como profissionais da saúde ao não diagnosticarmos e orientarmos sobre isso, estamos falhando ao não lutarmos por educação sexual obrigatória nas escolas, que nos seria tão mais válida do que perseverar na cultura de manter sexo como um tabu na sociedade.

É impossível não se colocar no lugar dessas mulheres diagnosticadas. Já vi uma menina de 17 anos morrer depois de três meses de internação por meningite fúngica e complicações da Aids. Como ela foi infectada? Sendo estuprada pelo próprio vizinho desde os 10 anos de idade. Essa menina poderia ter sido eu, minha filha, minha amiga. Está mais próximo do que pensamos porque HIV não tem cara, não tem rosto e não está escrito na testa de ninguém.

Tenho muita vontade de trabalhar apenas com isso, principalmente em uma linha de pesquisa sobre HIV em mulheres cis e trans. A ciência sobre esse assunto ainda é voltada mais ao público masculino e estudos sobre mulheres ainda são escassos. É um absurdo que, por exemplo, tenhamos de adaptar métodos de prevenção masculinos quando o assunto é sexo entre mulheres; que estejamos fadadas a sermos sombra e estar À margem do que é voltado para homens.

Meu trabalho atualmente tem sido o de tentar levar informação da forma que eu consiga alcançar mais gente possível, por meio das redes sociais. Com essa interação, consigo visualizar as demandas dessas mulheres. Conversamos, trocamos experiências, às vezes nos tornamos próximas. Elas me fazem ter vontade de seguir adiante, de estudar mais e de, um dia, poder fazer mais do que tenho feito até agora.

É polêmico, doloroso e ruim dizer isso, "mas digo para minhas pacientes mulheres que não confiem em ninguém. Se cuidem, previnam-se, façam exames de teste rápido para HIV, hepatites virais e sífilis pelo menos semestralmente. Se priorizem. Estamos juntas nessa luta".

Autora:  Eduarda Prestes, 30 anos, médica infectologista.

Fonte: UOL