Eu vivo com HIV/AIDS desde 1997. A minha história com o vírus você jamais verá nas mídias ditas e pseudo profissionais. Até porque as mesmas não se interessam por pessoas que, "como eu, fazem parte da maioria absoluta que não distorce a realidade", para lacrar, influenciar, ganhar notoriedade, likes e monetizar. Eu sou um vencedor!

CIÊNCIA DESCOBRE PORQUE O TRATAMENTO NÃO CONSEGUE ELIMINAR TOTALMENTE O HIV

Um estudo recente, realizado por pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, descobriu que as nossas células são ineficazes no combate ao HIV porque falta uma proteína fundamental, que permite que elas se movam pelos tecidos do corpo.

"Ainda que o contágio pelo vírus não seja uma sentença de morte hoje em dia, como foi no passado, nenhum tratamento atual é capaz de eliminar totalmente o vírus do corpo dos pacientes. A nova descoberta pode ser a chave para compreendermos isso".

A alta resistência sempre foi uma característica marcante do HIV, que atrasou por anos o desenvolvimento de medicamentos para a doença. Atualmente um portador do HIV está fadado a conviver com o vírus, ainda que em quantidades indetectáveis. Na pesquisa, os cientistas descobriram que nossas células T não se movem com muita eficiência pelos tecidos do nosso corpo. Esse atraso atrapalha a caça e a eliminação dos patógenos.

O movimento errante dos linfócitos é gerado por falta da proteína CD73. Depois de três anos, o professor Shokrollah Elahi, de Alberta, e seu grupo descobriram que certos processos inflamatórios atrapalham a produção dessa molécula no organismo. Esse tipo de inflamação é muito comum em portadores do HIV, e por isso suas células T têm menor penetração nos tecidos. Além disso, a descoberta ajuda a explicar porque pessoas com o vírus têm menor tendência de desenvolver esclerose múltipla.

Se isso se comprovar, a substância pode ser também um marcador da doença neurológica. Compreender melhor sua síntese no organismo e seus mecanismos de atuação pode ajudar no desenvolvido do tratamento de, não uma, mas duas doenças diferentes.

FONTES: PLOS PATHOGENS - TECMUNDO

BRASIL PEDIRÁ À OMS CERTIFICADO DE ELIMINAÇÃO DA TRANSMISSÃO DO HIV DE MÃE PARA FILHO

Grávida do primeiro filho aos 21 anos, Izabelita Gonçalves Batista ficou paralisada ao abrir o envelope dos resultados de exames de rotina do pré-natal e descobrir que havia testado positivo para o HIV. Com uma vida na barriga, ela só enxergava um atestado de morte na papelada em suas mãos. 

O diagnóstico ocorreu ainda na década de 1990. Ela tomou o coquetel de AZT, droga usada na época, e conseguiu evitar que Mariana, hoje com 24 anos, fosse infectada com o vírus da aids. Mais recentemente, Miguel, de três anos e meio, também nasceu salvo da doença após uma gravidez inesperada. “Na primeira gestação foi muito angustiante. Fiquei com aquela culpa dentro de mim, muito medo de infectar minha filha, e achando que eu tinha pouco tempo de vida. Com o meu filho agora, já estava há anos com carga viral indetectável e sabia que não havia riscos”, lembra Izabelita, professora aposentada de 46 anos.

As duas gestações de Izabelita, já na condição de soropositiva em um intervalo de 20 anos, são simbólicas da meta que o Brasil tenta atingir ainda em 2022. O governo quer conquistar o certificado de eliminação da transmissão vertical (de mãe para filho) do HIV como problema de saúde pública emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Não se trata de erradicação, mas atingir níveis mínimos desse tipo de contágio. A obtenção do selo da OMS seria um marco dos 40 anos do primeiro caso de Aids no país. No momento, o Ministério da Saúde investiga casos de crianças junto às vigilâncias estaduais de saúde para ter segurança ao preparar sua candidatura como território livre do contágio ocorrido na gestação, parto ou amamentação.

Dados preliminares, ainda não publicados, mostram que o Brasil está próximo de atingir os dois parâmetros de impacto exigidos pela OMS. Um deles é a taxa de incidência de infecção pelo HIV por meio da transmissão vertical (que relaciona o número de crianças infectadas segundo o ano de nascimento e o número de nascidos vivos naquele mesmo ano). O indicador determinado pela organização internacional é 0,5 casos ou menos por mil nascidos vivos. O Brasil registrou 0,09 casos por mil nascidos vivos, bem menor que o exigido.

O segundo indicador é a taxa de transmissão vertical, calculada com base em outros parâmetros importantes para o controle da doença no país (relaciona o número de crianças infectadas segundo o ano de nascimento pelo número de gestantes HIV positivas do mesmo ano). Enquanto a OMS exige que essa taxa seja de 2%, o Brasil registrou 2,4%. Os dados para embasar o pedido à OMS são de 2019, ano para o qual os principais indicadores já podem ser calculados, e não estão publicados nos boletins epidemiológicos porque a pasta está fazendo a revisão sistemática de casos.

O Diretor do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Gerson Fernando Mendes Pereira afirma que a revisão dos casos é importante para não se fazer um pedido à OMS com alguma lacuna, até mesmo porque a entidade internacional envia uma comitiva ao país para checar as informações repassadas. “Tudo leva a crer que o Brasil vai conseguir atingir a meta exigida. Os dados apontam para isso. Ter uma capital como São Paulo, com 12 milhões de habitantes, certificada e recertificada pelo Ministério da Saúde como livre de transmissão como problema de saúde pública dá uma certa tranquilidade”, explica Pereira.

A cidade de São Paulo, Curitiba e Umuarama (PR) são os três municípios considerados livres da transmissão vertical do HIV, certificados pelo Ministério da Saúde anualmente. No entanto, locais na região Norte e Nordeste tem índices mais elevados. A pasta não informou taxas regionalizadas porque estão sendo checadas, uma vez que há problemas nas notificações em um país tão grande quanto o Brasil. Em São Paulo, por exemplo, houve quatro casos que haviam sido registrados mas que a investigação mostrou que não ocorreu a transmissão do HIV de fato, conta Pereira.

Segundo o diretor do Ministério da Saúde, uma certificação da OMS, que considerará a taxa global do país, será importante para estimular localidades em que os índices de transmissão ainda estão acima da média nacional. Ele ressalta que o Brasil é a única nação de renda média com chance real de ser certificada. Há 14 países, como Cuba, Tailândia e Barbados, entre outros com população pequena, que já conquistaram o selo da OMS, informou Pereira. O principal caminho para diminuir a transmissão vertical, além de baixar os números gerais da doença no país, é garantir uma excelente cobertura de pré-natal, que já é superior a 95% no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, O protocolo no país é fazer um teste de HIV na primeira consulta e outro no início do terceiro trimestre da gravidez. 

Se a gestante for soropositiva, é necessário iniciar ou ajustar o tratamento com os antirretrovirais para ficar com carga viral indetectável, o que praticamente elimina o risco de transmissão ao bebê. “Cada vez mais gestantes já chegam ao consultório com carga viral indetectável, porque houve um avanço da política de testagem e da adesão ao tratamento, que hoje pode ser feito com dois comprimidos por dia. Antigamente, já cheguei a receitar 24 comprimidos três vezes ao dia. Isso faz com que a gestação possa ser vivida com tranquilidade”, afirma Jorge Senise, infectologista do Núcleo de Patologias Infecciosas da Gestação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A ginecologista Ana Katherine da Silveira Gonçalves ressalta que para eliminar qualquer risco de infecção há o protocolo de uso de AZT durante o parto, quando pode haver contato do bebê com fluidos da mãe, como sangue e secreções. Segundo ela, que integra a Comissão Nacional Especializada de Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), 65% das transmissões ocorrem no parto e na amamentação. “Apesar da rede pública de saúde seguir os protocolos com eficácia consolidada e ofertar o tratamento com os antirretrovirais, há mulheres que não fazem o pré-natal, que não têm informação, que moram na rua. E os casos de transmissão vertical acabam ocorrendo ainda hoje. O HIV tem uma relação grande com as condições sociais”, afirma Ana Katherine.

Para se candidatar à certificação da OMS, o Brasil trabalha revisando microdados de 2019, que são os consolidados mais recentes e estão sendo resguardados. Em relação aos últimos grandes indicadores monitorados regularmente, a pasta informa que, em 2020, o Brasil registrou 177 casos de aids (doença causada pelo HIV) em crianças menores de cinco anos. Esse número em 2010 foi de 547 notificações, conforme mostram os boletins epidemiológicos anuais publicados pelo Ministério da Saúde.

Fonte: Agência de Notícias da Aids

NO BRASIL INFECÇÕES POR HIV EM CRIANÇAS CAI 87% EM 12 ANOS

O número de casos de infecção por HIV entre crianças de até 5 anos no Brasil caiu 87% entre 2009 e 2021, segundo indicadores do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), do Ministério da Saúde (MS). Em termos absolutos, o número de registros caiu de 562 para apenas 74 nesse período.

A transmissão do HIV de mulheres grávidas para fetos acontece pela chamada transmissão vertical, que se dá durante a gestação, o parto ou até pela amamentação. Pessoas com o vírus podem ou não desenvolver a Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS), tudo depende de ter o diagnóstico e iniciar o tratamento o quanto antes.

Para Adriana Ferrazini, presidente do Projeto Criança AIDS, em São Paulo, a testagem do HIV no momento em que se descobre a gravidez influenciou diretamente na queda das transmissões verticais. “Além da maior informação que essas mães recebem hoje em dia, a queda aconteceu por conta do exame que é feito logo que a mulher fica grávida. Assim o risco diminui infinitamente, mas também é crucial que a gestante continue o acompanhamento. Isso porque aqui no projeto, por exemplo, temos casos de mães que passaram bem pela gestação, mas acabaram se infectando durante a amamentação sem saber e passaram para o bebê”, diz a assistente social. 

Ainda segundo Adriana, os cuidados durante a gestação tiveram grande avanço nos últimos anos, “mas ainda há pouca comunicação sobre a AIDS para as crianças, que hoje nem sequer sabem o que significa. O que me preocupa atualmente é que paramos de falar sobre a AIDS e as crianças de 8, 9 e até 10 anos muitas vezes não sabem o que é. São esses que em breve serão jovens e vão começar a vida sexual sem consciência, se relacionando sem proteção. E tudo isso pode gerar uma explosão de infecções novamente”, diz Adriana.

Dados da plataforma de indicadores do Ministério da Saúde indicam que também houve queda na infecção de gestantes nos últimos anos. De 2017 a 2020, ano dos últimos dados compilados pelo ministério, o número de infectadas por mil nascidos vivos foi de 8.577 para 4.280, uma redução de 50%. Especialistas ponderam, entretanto, que em 2020, por causa da pandemia, os dados podem apresentar alto grau de subnotificação, já que muitas pessoas deixaram de ir aos hospitais devido à Covid-19.

O presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o ginecologista Geraldo Duarte, afirma que a queda no número de casos se justifica principalmente pela melhora nos protocolos de tratamento e maior disponibilização de testes. “Há cerca de 5, 6 anos, as pessoas diagnosticadas só começavam a receber tratamento no momento em que tinham sintomas de imunodeficiência por causa da AIDS. Depois de muita pressão da sociedade, esse protocolo foi modificado e o tratamento passa a ter início logo que acontece o diagnóstico. Por outro lado, a maior disponibilidade de testes permite diagnósticos antecipados e tratamento nas etapas iniciais da doença”, explica o ginecologista. Para o médico, o número de infecções entre gestantes é um importante indicativo da situação da doença no país. “Se cai o número de grávidas infectadas, cai também o de crianças e, consequentemente, o de adultos no futuro. Então a tendência é que o número de infecções totais no país acompanhe a variação da doença entre as gestantes”, explica o ginecologista.

O número total de casos de AIDS no país cai a cada ano desde 2013. Nesse período, houve queda de 69%. De 43.493 casos em 2013, o Brasil foi para 13.501 em 2021. As mortes causadas pela doença também caíram no país: de 2015 a 2020, ano do último dado compilado pelo ministério, os óbitos que tiveram por causa básica a AIDS foram de 12.667 para 10.417. Para Paulo de Souza Júnior, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fiocruz (ICICT/Fiocruz), o avanço no combate à doença no país se deve principalmente à atuação do DCCI no tratamento imediato após o diagnóstico da doença. “Os números mostram que as ações do departamento têm sido bastante efetivas. Com o tratamento antecipado, além de reduzir os riscos de o paciente vir a ter infecções relacionadas ao HIV e reduzir o risco de óbito, aumentam também as chances de o paciente se manter vinculado ao serviço de saúde. Com isso, muitos nem chegam a ter a AIDS e morrem por outras causas”, diz o pesquisador da Fiocruz.

No Estado do Rio de Janeiro, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) identificou a mesma tendência de queda nas infecções. O número de crianças de até 5 anos com HIV no estado diminuiu 55,9% de 2018 para 2021. Em 2018, o estado registrou 34 casos de transmissão vertical. Em 2019, o número caiu para 32. Em 2020, foram 19 e em 2021, 15. Segundo a gerente de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST/AIDS) da SES, Juliana Rebello, quanto mais cedo o vírus for detectado e a terapia antirretroviral começar, melhor. “Com o tratamento, é possível reduzir a carga viral da mãe até que ela fique indetectável e, assim, impedir a transmissão do HIV para a criança”, explica a servidora.

FONTE: DCCI - MINISTÉRIO DA SAÚDE

EXPECTATIVA DE VIDA DE PESSOAS COM HIV CRESCE CADA VEZ MAIS

Em 2021, um estudo publicado na revista científica The Lancet HIV mostrou que a expectativa de vida das pessoas que vivem com o vírus na América Latina e no Caribe e se tratam com remédios antirretrovirais aumentou significativamente. "A pesquisa, a maior sobre o assunto na região, indica que a nova expectativa de vida agora é bem próxima da população em geral".

A análise revela que a expectativa de vida aumentou em todas as faixas etárias ao longo do tempo. Os pesquisadores calcularam que expectativa de vida aos 20 anos das pessoas com HIV que se tratam com remédios antirretrovirais cresceu de 13,9 para 61,2 anos adicionais no Haiti e de 31,0 para 69,5 anos nos outros países. "Esta nova estimativa deixa este grupo com apenas 10 anos a menos de diferença da expectativa de vida da população em geral, na região".

Os autores identificaram uma série de fatores que contribuem para diminuir a expectativa de vida ao longo do estudo. As mulheres tinham maior expectativa de vida do que os homens, com estimativas de 65,3 anos para as do Haiti e 81,4 anos para as mulheres de outros países, ao final do período da pesquisa. Em comparação, a expectativa de vida estimada era de 56,0 anos de idade para os homens no Haiti, enquanto em outros países as estimativas para homens heterossexuais e homens que fazem sexo com homens eram de 58,8 e 67,0 anos, respectivamente.

Pessoas com histórico de tuberculose, uma das principais causas de morte entre pessoas que vivem com HIV, também tinham uma expectativa de vida menor do que aqueles sem histórico da doença. Ao final do estudo, em outros países que não o Haiti, a expectativa de vida foi estimada em 48,0 anos para pessoas com histórico de tuberculose, em comparação com 74,1 anos de idade para aqueles sem. Para os mesmos grupos no Haiti, a expectativa de vida era de 44,1 e 66,6 anos, respectivamente.

Níveis baixos de escolaridade também foram associados a uma menor expectativa de vida. Em outros países, exceto o Haiti, a estimativa foi de 75,5 anos de idade para pessoas com ensino médio, em comparação com 57,0 anos de idade para aqueles com tempo de estudo inferior. No Haiti, a expectativa de vida estimada entre esses grupos era de 77,7 e 53,3, respectivamente.

"Nesse sentido, cientistas são unânimes em dizer que começar o tratamento precoce é crucial para conseguir atingir uma qualidade de vida melhor e por mais tempo. No entanto, essa medida esbarra no alto número de pessoas que desconhecem sua sorologia".

Saúde em meio à pandemia: A detecção de novos casos de HIV teve queda de 25% no país em 2020 comparado ao mesmo período de 2019. Foram 32,7 mil casos novos no ano passado contra 43,3 mil no ano anterior. Os dados são do Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2021. Dr. Gerson Pereira, diretor do departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, disse que a redução da detecção de novos casos de HIV era esperada por conta da pandemia. Apesar da redução no total, a detecção de novos casos de HIV em gestantes teve aumento de 30,3% no período. Foram 7,8 mil casos em 2020.

Fonte: Agência de Notícias da Aids

AS NOVAS ARMAS DA CIÊNCIA CONTRA O HIV

Foi pelas mãos dos cientistas franceses Luc Montagnier (1932-2022) e Françoise Barré-Sinoussi, em 1983, que o mundo da ciência vislumbrou pela primeira vez o vírus HIV, causador da AIDS. Naquela época, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), cercada de preconceito, chegava a ser chamada pela infeliz alcunha de “câncer gay”. 

A terminologia fazia alusão aos primeiros grupos a serem acometidos pela infecção nos Estados Unidos, ainda em 1981. Não demorou muito, porém, para que o vírus irradiasse para homens heterossexuais, mulheres e até crianças, tornando-se um problema global de saúde pública.

A descoberta de Montagnier e Barré-Sinoussi abriu caminho para cientistas buscarem testes de detecção do vírus e drogas que oferecessem ao corpo alguma chance de defesa. Passados mais de quarenta anos desde os primeiros casos, hoje a medicina compreende muito bem a ação do HIV no organismo. Ao longo dessas décadas, desenvolveu cerca de três dezenas de fármacos antirretrovirais, de uso combinado, capazes de inibir a replicação desse agente infeccioso no sistema imune, impedindo que ele aplaque as defesas do paciente e evitando que desemboque em quadros de Aids. Assim, rompe-se a cadeia de disseminação do vírus, uma etapa fundamental para o controle da epidemia.

O problema é que nem todos tomam os comprimidos na regularidade exigida e algumas pessoas, por conta das falhas no tratamento, deixam de responder bem às drogas existentes. Ciente das limitações, a comunidade científica seguiu em busca de avanços. Novas apresentações dos medicamentos (em dose única ou injetáveis) começam a passar pelo crivo de agências reguladoras mundo afora. Também estão na mira dos pesquisadores mais de 20 imunizantes em fases de desenvolvimento, segundo a Iniciativa Internacional pela Vacina da Aids (IAVI). Um deles é testado no Brasil.

É um momento promissor, de otimismo. Os pesquisadores avançam em novas classes de medicamentos, inclusive inovações para as pessoas que apresentam resistência após falha em tratamentos anteriores. A chegada de novas drogas sempre abre novas esperanças, afirma Valdez Madruga, coordenador do Comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia. Entre as celebradas inovações recentes há o programa de inclusão de um novo medicamento injetável, o primeiro desse tipo, no SUS. O estudo será operacionalizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a partir do segundo semestre deste ano, pois ainda precisa passar por aprovações, e mirará nas populações de alto risco de infecção pelo vírus, caso dos jovens, por exemplo.

Com ação durável, o medicamento retira a necessidade de pílulas de uso diário, o que reduz a brecha para falhas no tratamento e, por consequência, a redução da efetividade dos fármacos. Sua aplicação dura dois meses, portanto requer somente seis injeções ao longo de todo um ano. Essa apresentação do princípio ativo cabotegravir é dedicada à PrEP, a profilaxia pré-exposição, cuja função é prevenir a infecção pelo HIV em indivíduos saudáveis que têm comportamentos de risco. No Brasil, aproximadamente 33 mil pessoas fazem uso desse método de cuidado com drogas orais hoje.

É uma nova estratégia altamente eficaz para prevenir a infecção para HIV. A pessoa poderá usá-la somente nos períodos em que estiver mais exposta ao vírus. Se essa pessoa, porém, estiver constantemente com risco aumentado de adquirir o HIV, ela precisará aderir à PrEp continuamente, e aí o injetável torna-se uma opção ainda mais atraente, diz Beatriz Grinsztejn, chefe do laboratório de Pesquisa Clínica em DST e AIDS do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.

Claudia Velasques, diretora e representante no Brasil do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e AIDS (Unaids) ainda elenca mais um avanço importante e recente: em 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma droga que combina dois princípios ativos: o dolutegravir com a lamivudina. Este, vale dizer, para tratamento de pessoas já identificada com o vírus.  Apesar de não serem composto novos, a combinação desses dois princípios ativos em um mesmo comprimido é inédita no país e contribui para a adesão ao tratamento, uma vez que a pessoa precisa tomar apenas um comprimido por dia, afirma. Ambas as inovações estão sob o guarda-chuva da farmacêutica GSK, que quer ainda a aprovação do cabotegravir injetável, em parceria com outra droga da farmacêutica Janssen, para tratamento de HIV no Brasil. A combinação ainda deve ser avalizada pela Anvisa para ser usada no país. Quanto mais fácil e cômodo o esquema terapêutico, melhor a adesão. Os estudos mostram que quanto menos comprimidos e quanto menos tomadas diárias requer o tratamento, mais fácil é sua continuidade, diz Rodrigo Zilli, diretor Médico da área de HIV da GSK.

Em outra ala de desenvolvimento, duas dezenas de vacinas dedicadas à prevenção da infecção também acumulam avanços. A farmacêutica americana Moderna, responsável por uma delas, começou neste ano a fase 1 de desenvolvimento, aquela dedicada a averiguar a segurança de um fármaco, de uma vacina que utiliza a plataforma de RNA mensageiro, costumeiramente ligada a altas taxas de eficácia, conforme foi possível observar com os novos imunizantes para Covid-19. 

Mais avançado está o chamado “estudo Mosaico”, cujo desenvolvimento inclui centros de referência brasileiros, caso do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Hospital das Clínicas, ambos em São Paulo. O estudo está na fase 3 e já recrutou todos os 3,6 mil voluntários necessários. A vacina utiliza tecnologia semelhante à utilizada pelo antígeno da Universidade de Oxford e da AstraZeneca contra a Covid-19. Já temos resultados da fase pré-clínica realizada em primatas, que foi de 67% de proteção em exposições desprotegidas. É algo inédito em vacinas nesse estágio para HIV, diz Bernardo Porto Maia, infectologista do Emílio Ribas e um dos líderes do estudo. A previsão mínima para avaliar a eficácia é para início de 2023, acrescenta.

Todas essas novidades figuram como avanço valioso para a saúde no país. A cada dia, cerca de 90 brasileiros recebem o diagnóstico de que foram infectados pelo vírus HIV, de acordo com a média de notificações enviadas ao Ministério da Saúde nos últimos anos. Em todo o mundo, são 38 milhões de pessoas convivendo com o vírus. As persistentes taxas de transmissão, inclusive, fazem necessário repetir: os principais meios de transmissão continuam sendo as relações sexuais desprotegidas e o compartilhamento de itens perfuro-cortantes sem a devida higiene.

Sem mecanismos replicáveis em larga escala para alcançar a cura, alguns métodos de transplante de medula apresentaram resultado positivo para eliminar o vírus, fortalecer as frentes de prevenção, tratamento e imunização são as principais armas do arsenal contra a infecção. O vírus tem uma capacidade de ficar latente em algumas células do corpo, que são reservatórios do HIV. É como se ele dormisse, sem se replicar, mas continua viável dentro das células. Ainda não conseguimos atingi-lo, a não ser impedindo sua replicação, explica Bernardo Porto Maia. Com as novas estratégias disponíveis, porém, a briga contra o HIV aponta para a vitória da ciência.

FONTES: AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA AIDS - O GLOBO