Eu vivo com HIV/AIDS desde 1997. A minha história com o vírus você jamais verá nas mídias ditas e pseudo profissionais. Até porque as mesmas não se interessam por pessoas que, "como eu, fazem parte da maioria absoluta que não distorce a realidade", para lacrar, influenciar, ganhar notoriedade, likes e monetizar. Eu sou um vencedor!

DR. ESPER KALLÁS: VIVER COM HIV NÃO É CRIME!

"DR. ESPER KALLÁS É MÉDICO INFECTOLOISTA, PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE MOLÉSTIAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS, E PESQUISADOR DA USP"

Há alguns anos, fui consultado sobre um caso de uma pessoa que, supostamente, tentava transmitir sexualmente o HIV. Isso aconteceu pois descobriu-se que vivia com o vírus, depois de terem sido encontradas receitas médicas em sua gaveta, nas quais constavam os remédios do coquetel de tratamento. O delegado responsável por investigar a denúncia, até então, tendia a aceitar a abertura do processo.

Criminalizar alguém por estar infectado pelo HIV ainda é um grave problema em vários países do mundo, incluindo o Brasil. Ao menos 92 países têm leis específicas ou suficientemente vagas que permitem responsabilizar judicialmente uma pessoa que vive com o vírus por manter relações sexuais. A situação torna-se ainda mais grave pois a maioria das pessoas vivendo com HIV pertence a grupos populacionais socialmente mais vulneráveis.

Em relações sexuais consensuais, uma pessoa que vive com HIV precisa, obrigatoriamente, revelar seu status sorológico para o parceiro?

A resposta é NÃO!

Sustentando esta posição, seguem algumas ponderações:

- Em relação à prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, "ter uma relação sexual consensual traz responsabilidades para todos que dela tomam parte".

- O tratamento com o coquetel de antirretrovirais é altamente eficaz no controle da multiplicação do HIV, permitindo que as pessoas consigam manter o HIV indetectável no sangue. COMO CONSEQUÊNCIA, DEIXAM DE TRANSMITIR O VÍRUS POR VIA SEXUAL. 

- Em diversos, extensos e repetidos estudos, os resultados são contundentes: "pessoas que compõem casais cujo parceiro sexual vive com HIV e tem vírus indetectável não se infectaram, mesmo com relações sexuais sem proteção por camisinha masculina ou feminina. Como resultado, uma pessoa que vive com o HIV e está indetectável é um parceiro sexual mais seguro em uma relação sexual desprotegida do que alguém que não sabe se tem o vírus. Daí o conceito de INDETECTÁVEL= NÃO TRANSMISSOR".

- A recomendação é partilhada pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids (Unaids), que também sugere aos países respeito à confidencialidade das pessoas que vivem com o vírus, auxiliando no combate ao preconceito e favorecendo o acesso aos serviços de saúde. Continuar criminalizando pessoas somente porque vivem com o HIV trilha o caminho inverso.

- Comparando HIV aos demais agentes de infecções sexualmente transmissíveis, nota-se que estes também podem levar a consequências potencialmente graves. Por exemplo, a sífilis, na forma terciária, pode comprometer órgãos e sistemas, inclusive as funções neurológicas. A gonorréia pode levar à infertilidade. O HPV pode levar a câncer genital, especialmente em mulheres. "Não há, nestas circunstâncias, o mesmo movimento de imputação de culpa por ter ocorrido transmissão por sexo".

Ao contrário de criminalizar as pessoas que vivem com HIV, é preciso fortalecer os serviços de saúde para promoção da prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, facilitar acesso a testes para agentes transmissíveis por via sexual e assegurar tratamento com remédios do coquetel antirretroviral aos que vivem com o HIV. Cabe, aqui, discutir uma campanha que esclareça melhor à sociedade o conceito "indetectável = não transmissor".

Já passou da hora de resolver esse problema de saúde pública e, também, de direitos humanos!

Fontes: Folha de São Paulo - Agência de Notícias da Aids

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