Eu vivo com HIV/AIDS desde 1997. A minha história com o vírus você jamais verá nas mídias ditas e pseudo profissionais. Até porque as mesmas não se interessam por pessoas que, "como eu, fazem parte da maioria absoluta que não distorce a realidade", para lacrar, influenciar, ganhar notoriedade, likes e monetizar. Eu sou um vencedor!

NOVO TRATAMENTO CONTRA HIV PERMITE QUE PACIENTE VIVA SEM NECESSIDADE DE USAR ANTIRRETROVIRAIS

Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Temple e da empresa de terapia gênica Excision BioTherapeutics, ambas instituições norte-americanas, estão trabalhando em um tratamento promissor contra o HIV.

Tanto o vírus quanto a AIDS, doença que leva ao enfraquecimento do sistema imunológico do paciente, são conhecidos há 40 anos, embora a cura nunca tenha sido encontrada. 

A nova terapia recebe o nome de EBT-101. Uma injeção de dose única baseada em uma tecnologia de edição de genes conhecida como CRISPR.

“Em teoria, o composto deve remover o DNA viral do HIV das células, erradicando a infecção e permitindo que os pacientes vivam sem a necessidade de antirretrovirais”.

Os antirretrovirais começaram a ser usados na década de 1980. Eles não destroem o vírus, mas ajudam a evitar sua replicação e, consequentemente, permitem que a pessoa com HIV tenha uma maior qualidade de vida. O principal problema é que, em algumas situações, o vírus pode se esconder em reservatórios teciduais, escapando do sistema imunológico e atrapalhando a função do medicamento. O tratamento EBT-101 contra o HIV já passou por testes em animais e agora deve ser aplicada em humanos.

“O primeiro paciente, que não foi identificado, já recebeu sua dose única por meio de infusão intravenosa e deve ser avaliado em breve para que os cientistas decidam se irão suspender ou não o uso de antirretrovirais”.

“O extenso trabalho pré-clínico de nossas equipes de pesquisa em Temple demonstrou a eficácia do EBT-101 na remoção do DNA do HIV de células infectadas e lançou as bases para estudos clínicos”, disse Tricia H. Burdo, uma das autoras do estudo, em comunicado. É realmente emocionante para nós ver a Excision BioTherapeutics levar essa terapia potencialmente curativa para os ensaios clínicos de Fase 1/2.

FONTE/LINK: GLOBE NEWS WIRE

MILITAR COM HIV, MESMO ASSINTOMÁTICO, TEM DIREITO À REFORMA POR INCAPACIDADE

​Em julgamento de recurso repetitivo (Tema 1.088), a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu que: “o militar de carreira ou temporário, este último antes da alteração promovida pela Lei 13.954/2019, diagnosticado como portador do vírus HIV, tem direito à reforma ex officio por incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas”.

A decisão fixou o entendimento de que esse direito do militar é reconhecido “independentemente do grau de desenvolvimento da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Sida/Aids), porém, sem a remuneração calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediatamente superior ao que possuía na ativa, se não estiver impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho, na forma do artigo 110, parágrafo 1º, da Lei 6.880/1980”.

Por maioria, o colegiado acompanhou a relatora, ministra Assusete Magalhães, para quem não é necessária a modulação dos efeitos no repetitivo, uma vez que o direito à saúde, assegurado constitucionalmente, “resta resguardado na reafirmação do posicionamento anterior do STJ, ao conceder a reforma ao militar diagnosticado com o vírus HIV, ainda que assintomático, por incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas, mas com remuneração calculada com base no soldo percebido na ativa”.

Segundo a relatora, a principal norma que disciplina a carreira militar é a Lei 6.880/1980, que, nos artigos 104 a 111, define a reforma como a passagem definitiva para a inatividade. No artigo 108 da Lei 6.880/1980, ressaltou, estão relacionadas as hipóteses de incapacidade definitiva, entre elas, doenças especialmente graves, com ou sem causalidade com o serviço militar (inciso V); bem como há a previsão de que outras leis especifiquem outras moléstias, como é o caso da Aids, mencionada no artigo 1º, I, “c”, da Lei 7.670/1988. “A relatora explicou que a controvérsia do repetitivo dizia respeito à situação do portador assintomático do vírus HIV, ou seja, aquele em que a doença ainda não se manifestou”.

De acordo com a magistrada, dadas as peculiaridades da carreira militar, e apesar dos avanços médico-científicos no tratamento da doença, ainda considerada incurável, o STJ, a partir do julgamento dos EREsp 670.744 pela Terceira Seção, tem mantido o entendimento de que o membro das Forças Armadas portador do vírus tem direito à reforma ex officio, por incapacidade definitiva para o serviço ativo, ainda que assintomático e independentemente do grau de desenvolvimento da doença.

A ministra destacou que, antes da alteração promovida pela Lei 13.954/2019, impõe-se o reconhecimento do direito à reforma do militar, de carreira ou temporário, na hipótese de ser portador do vírus HIV, por incapacidade definitiva para o serviço ativo, conforme os artigos 106, II, 108, V, e 109 da Lei 6.880/80, combinados com o artigo 1º, I, “c”, da Lei 7.670/1988. O advento da Lei 13.954/2019, contudo, trouxe o acréscimo do inciso II-A ao artigo 106 da Lei 6.880/1980, criando uma diferenciação, para fins de reforma, entre militares de carreira e temporários: enquanto, para os temporários, exige-se a invalidez, para os de carreira basta a incapacidade definitiva para o serviço ativo.

“Portanto, a reforma do militar temporário, com fundamento no artigo 108, V, da Lei 6.880/1980 (doenças), somente após o advento da Lei 13.954, de 16/12/2019, passou a exigir a invalidez, requisito não preenchido pelo portador assintomático do vírus HIV. Essa perspectiva da ausência de invalidez, no caso, já era reconhecida pela jurisprudência do STJ, ao afirmar que o direito à reforma do militar portador do vírus HIV, independentemente do grau de desenvolvimento da doença, dava-se por incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas, ou seja, por incapacidade apenas para o serviço militar”, disse.

Assusete Magalhães lembrou que, segundo a Lei 6.880/1980, a reforma por incapacidade definitiva deve ser concedida com base no soldo do grau hierárquico superior, apenas e tão somente nas hipóteses dos incisos I e II do artigo 108 da Lei 6.880/1980, ferimento ou enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem pública. Nas hipóteses dos incisos III, IV e V do mesmo artigo 108 (acidente em serviço; doença relacionada ao serviço e doenças previstas na legislação), exige-se, para a reforma com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediatamente superior, que, além da incapacidade definitiva para o serviço ativo, o militar seja considerado inválido, ou seja, que ele esteja “impossibilitado total ou permanentemente para qualquer trabalho”, na vida castrense ou civil, concluiu a ministra.

FONTE: SOCIEDADE MILITAR

COMO É O TRABALHO DE MÉDICOS QUE DÃO O DIAGNÓSTICO DE HIV POSITIVO?

“Contar para o paciente que ele tem uma infecção que não tem cura e que ainda é carregada de estigmas e preconceitos na sociedade. Essa é uma das funções do infectologista, médico responsável pelo tratamento e acompanhamento de pessoas que vivem com HIV”.

Para Rico Vasconcelos, o profissional que trabalha nesta área tem de atuar de maneira multiprofissional sendo uma pessoa só. “Digo isso porque, além da parte técnica envolvendo o vírus, a saúde orgânica, os exames e a prescrição de medicamentos antirretrovirais, existe também uma parte psicológica, de acolhimento das angústias do paciente, e de comunicador, uma vez que precisamos transmitir muitas informações sobre HIV/aids de modo compreensível”, afirma o infectologista da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), do Núcleo de Medicina Afetiva (NuMA), e colunista de Viva Bem.

Bruno Ishigami, que atua na saúde prisional de Pernambuco e na Clínica do Homem, em Recife, pela AHF Brasil (Aids Healthcare Foundation), organização global voltada à prevenção, diagnóstico e tratamento de HIV/aids, diz que nos dois serviços têm a responsabilidade de conversar com pacientes diagnosticados com HIV. “Na maioria das vezes, recebo pessoas que já foram testadas positivamente. Meu trabalho consiste em acolher suas dores, tentar entender o que elas enxergam do diagnóstico e mostrar que ser positivo para HIV não vai mudar quem elas são em sua essência”, aformou o infectologista Bruno.

Com 30 anos de experiência como infectologista, a presidente da Sobai (Sociedade Baiana de Infectologia), Miralba Freire, afirma que o acolhimento inicial, sem julgamentos, é fundamental para estabelecer uma boa relação médico-paciente. “É importante ser claro em relação ao diagnóstico, ouvir os questionamentos do paciente, esclarecer suas dúvidas, incentivar sua autoestima, combater o preconceito, ter uma postura otimista e tranquilizadora para uma melhor adesão e continuidade do tratamento”, comenta a ex-diretora do Cedap (Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa) – Centro de Referência para Tratamento de IST/HIV/Aids no âmbito da Secretaria da Saúde da Bahia.

Vasconcelos diz que o senso comum coloca o HIV/aids num lugar de catástrofe, sofrimento e morte. Segundo ele, essa percepção vem do imaginário criado pelos casos graves da doença no período pré-tratamento antirretroviral, nas décadas de 1980 e 1990. Nesse sentido, ele pondera que é preciso trazer o paciente para 2022 e mostrar que hoje existem tratamentos capazes de mantê-los saudáveis e longe do adoecimento. “É importante passar o conceito de que fazendo o acompanhamento recomendado, o vírus não fará mal para a saúde do indivíduo e nem para as pessoas com quem ele se relacionar. Quem vive com HIV em tratamento antirretroviral adequado não tem risco de transmissão do seu vírus por via sexual, ainda que tenha relações sem preservativo. Essa informação é libertadora e precisa sempre ser reforçada”, alerta o infectologista da USP, que tem 18 anos de experiência na área.

Ishigami afirma que o maior cuidado que tem ao dar um diagnóstico é estar presente no momento da conversa. “Me esforço conscientemente para me conectar com o paciente. Por mais que eu dê vários diagnósticos ao longo de uma semana, é preciso lembrar que o diagnóstico é daquela pessoa que está na minha frente, é um dia de extrema importância para ela”. Ele diz que inicia as consultas perguntando se o paciente conhece alguém que vive com HIV para lembrá-lo de que é possível ter uma vida normal, e se ele tem algum medo específico em relação à infecção, com frequência o maior medo é que alguém descubra sua sorologia e que ele sofra preconceito.

“Abordo ponto a ponto para que a pessoa entenda que muitos dos medos e angústias são resultado dos estigmas e da falta de informação. Pergunto se o paciente está interessado em saber algum detalhe sobre a infecção ou se prefere um tempo para pensar e ficar sozinho. Se ele se sentir à vontade, explico como funciona o mecanismo de infecção pelo HIV, as repercussões no corpo e o que podemos fazer para um melhor controle e uma melhor convivência com o vírus. Mais importante do que essa parte técnica, é mostrar para a pessoa que ela não está sozinha e que existe uma rede dentro do sistema de saúde que está apta a cuidar dela levando em consideração sua individualidade e autonomia”, reforça o médico do Recife.

O colunista de Viva Bem conta que os casos mais marcantes para ele são os de mulheres gestantes que descobrem ter HIV durante o pré-natal: “Um processo que normalmente é de alegria, é atravessado por um assunto que é tratado pela sociedade com uma carga muito grande de discriminação”. Vasconcelos relembra a história de uma grávida que viveu meses de angústia e chorou em todas as consultas até depois do parto quando saiu o resultado do exame que confirmava que seu filho não havia se infectado. “Nesses casos, além de cuidar da saúde da gestante, é preciso deixar claro que o bebê terá sua saúde assegurada e que é possível zerar a transmissão materno-infantil do HIV com o tratamento adequado”, explica o médico da FMUSP.

Miralba diz que um caso recente que chamou sua atenção foi a de um adulto jovem que relatou com tristeza desconhecer a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição). “Ele disse que se soubesse, não teria adquirido a infecção pelo HIV. Infelizmente, essa situação se repete, porque as alternativas de prevenção ainda não são conhecidas e não estão ao alcance de todos. Tanto a divulgação quanto o acesso estão aquém do desejado”, lamenta a também professora da Faculdade de Medicina da Bahia da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

Trabalhando há cinco anos na área, Ishigami conta que já ouviu relatos de pacientes que sofreram preconceito no momento do diagnóstico. “Isso é péssimo em vários sentidos. É fundamental que profissionais que ocupam essa posição trabalhem os próprios preconceitos para que conduzam uma conversa leve e sem gerar nenhum sentimento de culpa no paciente”.

FONTE: VIVA BEM UOL

AUMENTAM CASOS DE DIABETES EM PESSOAS QUE VIVEM COM HIV

À medida que as taxas de diabetes continuam aumentando em pacientes com HIV, é necessária pesquisa para abordar os fatores de risco modificáveis e relacionados a esse aumento.

"Adultos com HIV têm maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 (T2D) em comparação com alguém nunca diagnosticado com HIV", observa Dra. Amanda Willig, PhD*.

No entanto, os medicamentos usados para tratar diabetes nem sempre controlam o açúcar no sangue também para alguém com HIV. "Identificar fatores associados ao risco de diabetes semelhantes à população em geral, bem como aqueles que são exclusivos do HIV, pode ajudar os médicos a fornecer o melhor cuidado preventivo para esses".

Em um estudo publicado, a Dra. Willig e colegas procuraram examinar a incidência de T2D entre pessoas com HIV e fatores de risco relacionados. Eles realizaram um estudo retrospectivo de coorte em uma clínica acadêmica de HIV no sudeste dos Estados Unidos, obtendo dados sobre demografia e características clínicas. "Estudamos mais de 4.000 pacientes elegíveis com dados de EMR disponíveis que receberam atendimento em nossa clínica de tratamento do HIV, explica". Para entender o papel que vários fatores de risco desempenham na era atual do tratamento, limitamos nossa investigação a um período de "10 anos de 2008 a 2018". Os pesquisadores definiram o diabetes utilizando três categorias: valores A1C iguais ou superiores a 6,5% e/ou dois resultados de glicose superiores a 200 mg/dL com intervalo mínimo de 30 dias; diagnóstico de diabetes no EMR; ou exposição a medicamentos para diabetes.

Características do paciente e fatores associados ao HIV influenciam o risco de diabetes:

Ficamos surpresos ao ver um aumento tão rápido na incidência e prevalência de diabetes em apenas 10 anos, diz a Dra. Willig. "A trajetória crescente de carga de diabetes em pessoas com HIV destaca a necessidade crítica de acesso ao cuidado com a prevenção do diabetes nessa população. Os pesquisadores identificaram 252 casos de diabetes em 4.113 pessoas com HIV. A incidência de diabetes aumentou de 1,04 por 1.000 pessoas-ano em 2008 para 1,55 por 1.000 pessoas-ano em 2018". Os fatores relacionados ao diabetes incidente incluíram IMC (HR, 10,5), doença hepática (HR, 1,9), exposição a esteroides (HR, 1,5) e uso de inibidores de integração (HR, 1,5). Outros fatores relacionados incluíram menores contagens de células CD4+, duração da infecção pelo HIV, exposição a não estatina, terapia de redução lipídica e dislipidemia.

A forte associação de baixo e alto peso corporal com risco de diabetes indica que programas de controle de peso para pessoas com HIV podem desempenhar um papel crucial na prevenção do diabetes, diz ela. "Os inibidores da Integrase também podem impactar o peso corporal, e a associação potencial dessa classe de medicamentos com incidência de diabetes destaca a necessidade de aconselhamento preventivo de estilo de vida para minimizar o impacto potencial desses medicamentos, juntamente com a consideração de regimes adequados de TARV em populações de maior risco para diabetes. É necessário cautela na prescrição e utilização de esteroides em pessoas com HIV, com monitoramento próximo de possíveis efeitos colaterais".

Fatores de Risco Modificáveis, Determinantes Sociais da Saúde e COVID-19:

À medida que os pacientes com HIV vivem mais tempo, médicos e pesquisadores precisam focar os cuidados não apenas na melhoria da longevidade, mas na manutenção da boa qualidade de vida, observa a Dra. Willig. Fatores de risco modificáveis, como o peso corporal, certamente desempenham um papel no risco de diabetes, e uma maior ênfase na modificação do estilo de vida para a prevenção do diabetes é necessária para retardar a trajetória de aumento da prevalência de diabetes, diz ela. "No entanto, o impacto da infecção pelo HIV e certos regimes de TARV no risco de diabetes indicam que esses programas devem ser adaptados para abordar os fatores de risco únicos daqueles com HIV, incluindo a identificação de pacientes inseguros com alimentos que possam precisar de assistência para atender às necessidades nutricionais e fornecer terapia nutricional médica".

Dra. Willig apontou para múltiplas áreas para futuras pesquisas destacadas pelo presente estudo:

Outras equipes de pesquisa mostraram que o tratamento farmacêutico para o controle do diabetes pode levar mais tempo para ter impacto equivalente para alguém com HIV, observa. No entanto, não sabemos se intervenções de estilo de vida como nutrição e exercício também precisam ser fornecidas para intervalos mais longos ou precisamente como a nutrição e o exercício devem ser adaptados para essa população. "Uma maior compreensão dos determinantes sociais da saúde que estão associados aos fatores de risco aqui identificados é fundamental para adaptar efetivamente os esforços de prevenção do diabetes".

Além disso, "os pesquisadores precisam determinar quais tratamentos médicos e comportamentais são mais eficazes para oferecer em conjunto com o uso do inibidor de integrase para minimizar efeitos metabólicos indesejáveis", continua a Dra.Willig. Uma questão separada, mas relacionada, é a pandemia COVID-19. "Precisamos explorar se a infecção pelo COVID-19 ou os estressores associados da vida durante uma pandemia impactaram a incidência de diabetes e, se isso se mostra ser o caso, se isso muda o manejo médico para diabetes em pessoas com HIV", diz ela.

*Dra. Amanda Willig, é Cientista e professora em doenças infecciosas e ciências nutricionais da Universidade do Alabama em Birmingham.

FONTE/LINK: PHYSICIANS WEEKLY

MEDICAMENTOS CONTRA HIV FALSIFICADOS COLOCAM EM RISCO PESSOAS MAIS VUNERÁVEIS

Medicamentos falsificados geralmente são vendidos por sites criminosos, mas em casos recentes, falsos antirretrovirais eram vendidos no atacado para farmácias legítimas e repassados aos pacientes.

Brandon Macsata precisava urgentemente da medicação. A maioria das pessoas que são diagnosticadas com HIV tem o vírus por vários anos antes de dsenvolver a AIDS, mas Macsata, como uma pequena parte de pessoas, passou de portador de HIV para doente de AIDS em questão de semanas. "Eu estava muito, muito doente, diz Macsata, que foi diagnosticado em 2001. Eu estava desesperado. Eu precisava das drogas".

Macsata estava trabalhando em uma organização de defesa da deficiência na época e ficou chocado ao descobrir que seu plano de seguro tinha um limite de US$ 1.000 em prescrições individuais. A receita dele custava 1.300 dólares por mês. Em 2022, o limite de US$ 1.000 valeria aproximadamente US$ 1.600 e ainda não cobriria o custo mensal de alguns antirretrovirais.

Ele pagou US$ 1.300 do bolso pelo primeiro mês de medicação. Então ele pesquisou online e descobriu que poderia pedir a mesma medicação do Canadá por US$ 450 por mês. Então ele fez isso por cinco meses, até que seu médico descobriu e disse a ele sobre comom podem ser perigosos os pedidos de medicação on-line. Macsata não tinha ideia se os medicamentos eram realmente provenientes do Canadá através de uma farmácia legítima, ou se eram falsificados.

Macsata teve sorte: não teve nenhum efeito adverso causados por esses medicamentos adquiridos online e ele parou de comprálos dessa forma. Seu médico o ajudou a se candidatar no Programa de Assistência à Aids (ADAP) e recebeu ajuda para pagar seus medicamentos por seis meses até conseguir outra apólice de seguro de saúde. Macsata é agora o CEO da ADAP Advocacy Association, uma organização que trabalha para fornecer assistência prescrita a pessoas com HIV/AIDS. Como resultado de sua própria experiência de prescrição, ele agora usa seu blog para alertar os outros sobre o risco de medicamentos falsificados. Ele aconselha as pessoas com HIV/AIDS a se defenderem verificando suas recargas de medicamentos para se certificarem de que são idênticas à prescrição anterior.

"Sou a última linha de defesa contra falsificações, diz ele em um PSA para a ADAP. "Se você detectar diferenças, então faça perguntas ao seu farmacêutico ou ligue para a linha direta de qualidade do fabricante". A medicação que Macsata e as pessoas que ele representa tomam são antirretrovirais, que impedem o vírus HIV de se reproduzir. Eles estão disponíveis como uma combinação de pílulas tomadas diariamente. ou injeções dadas a cada dois meses, e podem custar até US$ 6.000 por mês. Pessoas com HIV/AIDS que pulam doses de medicamentos ou que tentam esticar sua medicação correm o risco de enfraquecer seus sistemas imunológicos e permitir que o vírus se multiplique rapidamente.

Antirretrovirais falsificados são um problema de longa data, e falsificadores são auxiliados, em parte, pela venda de drogas nas ruas, quando pessoas que vivem com HIV vendem seus medicamentos. Os defensores da AIDS dizem que esse é um sintoma de problemas maiores, interconectados e não resolvidos: "uma doença crônica estigmatizada, preços de medicamentos e pobreza". Quando os antirretrovirais são vendidos acabam nas mãos de redes de falsificação Os medicamentos são revendidos, às vezes em combinação com outras drogas ilegais para aumentar seu efeito, a aparência e as marcas dos medicamentos originais são usadas como modelo para falsificação dos mesmos.

Em um estudo de 2016, Antonio Saravia, professor de economia e diretor do Centro de Estudos de Economia e Liberdade da Universidade Mercer, descobriu que homens negros com HIV/AIDS em Atlanta vendiam seus medicamentos para poder paar o aluguel, para comprar comida ou para paar outras despesas pessoais. Em menor medida, diz Saravia, alguns deles venderam seus medicamentos para obter drogas ilegais. "Eu tenho que vender para comer, conseguir comida, higiene pessoal, disse um participante do estudo. E se eu chegar com dinheiro extra, eu compro de volta". Atlanta tem uma das maiores taxas de HIV/AIDS no país. Um relatório publicado pela Universidade Emory em 2018 revelou que alguns CEP em Atlanta têm taxas de infecção pelo HIV que são seis a oito vezes maiores que a média nacional, e rivalizam com as de cidades africanas como Harare no Zimbábue ou Durban na África do Sul, dois países cujas taxas de diagnóstico de HIV estão entre as mais altas do mundo.

Dazon Dixon Diallo fundou a organização de Atlanta SisterLove em 1989 para garantir que as preocupações e vozes das mulheres ficassem na vanguarda da pesquisa, políticas públicas e serviços relacionados à AIDS. SisterLove é a primeira organização de justiça à saúde sexual do HIV, reprodutiva e sexual no sudeste dos Estados Unidos; oferece testes gratuitos de HIV e educação, e faz advocacia política. Diallo acha que as altas taxas de HIV em Atlanta resultam de vários fatores: é uma área urbana em uma parte do país marcada pelo conservadorismo político e social, e o HIV/AIDS ainda são condições estigmatizadas. "Como estamos no Sul, estamos décadas atrasados, diz ela. Estamos atrasados na prestação de serviços. Estamos atrasados na educação, e estamos segregados, no que diz respeito aos serviços de saúde". Diallo diz que sua organização atende "pessoas comuns", cada uma delas com uma relação única com o HIV. Ela diz que a maioria dos clientes da SisterLove estão em relacionamentos monogâmicos e vêm à organização para obter informações ou para serem testados porque seu parceiro se envolveu em sexo com outras pessoas. "São pessoas que precisam de mais informações, diz ela. Eles querem saber como tirar o melhor de sua saúde sexual". 

Obter a medicação adequada na dosagem adequada é vital para qualquer pessoa diagnosticada com HIV, mas é particularmente importante para os negros. "Os antirretrovirais reduzem os níveis do vírus na corrente sanguínea, e podem reduzi-lo ao nível de ser indetectável, momento em que o indivíduo não pode mais transmitir o vírus". No entanto, até um em cada cinco negros não são diagnosticados até desenvolverem a AIDS, o que significa que eles têm o vírus HIV não tratado por vários anos. Mesmo com os medicamentos corretos, às vezes é difícil reduzir a carga viral ou manter a redução de pessoas negras vivendo com HIV/AIDS. "Os estressores de viver em situação de pobreza, que podem incluir cuidados médicos inconsistentes, aumentam o desafio de diminuir a carga viral".

Diallo acredita que o fato de alguns atlantanos com HIV/AIDS venderem seus medicamentos aponta para as escolhas impossíveis que vêm com a pobreza. "Ainda esperamos que as pessoas obtenham cuidados de saúde consistentes que sejam acessíveiss, independentemente de você trabalhar ou não", diz ela. Embora o Programa estatal de Assistência a Medicamentos contra a Aids (ADAP) ajude pessoas de baixa renda a pagar por seus medicamentos, Diallo diz que nem todos se qualificam para o programa. Algumas pessoas ganham muito para se qualificar, mas não têm seguro de saúde e não ganham o suficiente para comprar um seguro que cobriria seus medicamentos. Os requisitos exatos de renda para a ADAP, um programa financiado pelo governo federal, variam de estado para estado, mas os candidatos são obrigados a ter uma renda baixa definida pelo ADAP daquele estado, pouco ou nenhum seguro, e um diagnóstico de HIV. Na maioria dos estados, o diagnóstico de HIV e outras documentações devem ser reconfirmados a cada seis meses. Nos últimos anos, alguns estados adotaram medidas de redução de custos limitando quantas pessoas recebem ADAP. Como resultado, vários estados agora têm listas de espera ADAP.

Os fabricantes de drogas Gilead Sciences e Johnson & Johnson têm ações civis em andamento para interromper a distribuição de versões falsificadas de seus antirretrovirais.O processo da Gilead Sciences nomeia 22 réus supostamente responsáveis pela distribuição de US$ 250 milhões em dois ARVs. Como resultado da investigação da empresa, 85.000 frascos falsificados de medicamentos e documentos falsos de venda de medicamentos foram confiscados antes de serem vendidos ao público. A Johnson & Johnson, em uma ação movida no tribunal federal de Nova York, está pedindo US$ 25 milhões em indenizações de réus que supostamente venderam medicamentos falsificados através de uma farmácia em Nova York. O processo afirma que o anel de falsificação supostamente fez milhões de dólares com a venda de ARVs falsificados e a farmácia fechou abruptamente em janeiro de 2022, quando a operação falsa foi descoberta.

Drogas falsificadas geralmente são vendidas através de sites criminosos, mas em casos recentes, eram vendidos no atacado para farmácias legítimas e repassados aos consumidores. Como Macsata foi avisado, medicamentos falsificados podem ser perigosos por algumas razões: "eles não contêm o ingrediente ativo do medicamento genuíno; eles contêm o ingrediente ativo, mas não uma quantidade adequada; ou a medicação foi trocada inteiramente por outra medicação. A Gilead Sciences foi alertada para um aparente esquema de falsificação quando começou a receber queixas sobre reações incomuns de drogas e relatos de que seus medicamentos de repente deixaram de ser eficazes. O processo da Johnson & Johnson seguiu reclamações semelhantes de clientes.

"De acordo com o processo da Gilead Sciences, um paciente da farmácia comprou um antirretroviral falsificado que tinha sido trocado por um poderoso medicamento antipsicótico. Depois de tomá-lo, o indivíduo não podia falar ou andar."São operações criminosas altamente sofisticadas, diz Jen Laws, CEO da Community Access National Network (CANN), uma organização com sede em Nova Orleans que trabalha para promover e melhorar a saúde e o apoio às pessoas que vivem com HIV/AIDS".

As leis não são uma novata na questão dos antirretrovirais falsificados. A CANN, em conjunto com a Partnership for Safe Medicines, divulgou um alerta altamente divulgado em 2014 alertando que havia irregularidades nas cobranças de seguros com pessoas que não tinham diagnóstico de HIV sendo cobrados por medicamentos para HIV. Esta era uma bandeira vermelha que certos antirretrovirais tinham sido alvo de falsificação. A organização da Laws continua monitorando atividades falsificadas e trabalha para manter farmacêuticos e consumidores informados.

"Os medicamentos para HIV não são os únicos medicamentos que estão sendo falsificados. Falsificadores produziram medicamentos falsos para hepatite C, insulina falsa, e até medicamentos contra o câncer".

Leis, Diallo e Macsata hesitam em aumentar o envolvimento da polícia com pessoas que vendem seus medicamentos. Eles não acreditam que isso resolva um problema que muitas vezes é o resultado da pobreza. "Um dos maiores problemas, especialmente no espaço do HIV, é culpar os pacientes por não terem acesso à saúde", diz Laws. Mas ele também diz que o rastreamento de medicamentos falsificados é largamente deixado para os fabricantes, que estão mal equipados para fazer esse trabalho. "Ele defende um esforço internacional coordenado para rastrear falsificadores, que estão ganhando milhões vendendo medicamentos falsificados nos EUA e em outros países". E tanto As Leis quanto Diallo acreditam que as políticas públicas que tratam das necessidades não atendidas das pessoas que vivem com AIDS ajudarão a resolver o problema. "Em particular, os pagadores da indústria privada ficaram muito, muito criativos em descobrir como negar a cobertura do cuidado", diz Laws sobre as companhias de seguros que às vezes dificultam a realização de cuidados de saúde e medicamentos de que precisam.

Apesar dos processos atuais, é improvável que os antirretrovirais falsificados desapareçam completamente. As leis aconselham as pessoas a tomar os remédios para se protegerem comprando seus medicamentos em farmácias confiáveis e nunca pedindo medicamentos online. Ele também oferece uma garantia para acalmar aqueles que podem acidentalmente adquirir medicamentos falsificados no futuro. "Não há nada que não possa ser consertado. Você tem direito a uma boa assistência médica", diz ele. Você tem direito a medicação segura".

FONTE/LINK: VICE.COM

(Editado e traduzido por Alexandre Gonçaves de Souza)

MONICA DESCOBRIU O HIV NA GRAVIDEZ E FAZ DO DIAGNÓSTICO SUA LUTA

Monica convive com HIV há 31 anos
Arquivo pessoal

“Fiz do HIV uma maneira de ajudar outras pessoas e uma luta de vida”, diz Monica dos Santos Moura, 55 anos, moradora de Santos, litoral de São Paulo. Nem sempre foi assim. Ela conta que levou um susto quando leu o termo reagente no exame de HIV, feito quando estava grávida, em 1991.

“Foi avassalador. Enquanto vivia o momento de maior emoção da minha vida, que era ser mãe, descobri ter uma doença que era fatal. Não estava preparada e, de cara, não caiu minha ficha. Só depois fui entendendo o que se passava. Resolvi não esconder nada de ninguém. Chamei minha família e fui clara com todos, não poderia passar por aquilo sozinha”.

“Na época do diagnóstico, com apenas 24 anos, Monica temeu que o filho nascesse com a doença, o que não aconteceu graças ao tratamento que começou imediatamente após o exame positivo”.

O marido, que até então não sabia estar com o vírus, faleceu pouco tempo depois. “Ele morreu triste, culpado. Eu nunca o culpei. Éramos novos, não havia a informação que existe hoje. Casei-me novamente e fiquei 17 anos com um homem maravilhoso, que também faleceu. Depois disso, preferi seguir minha vida sozinha”.

Volta por cima depois da primeira internação:

Com as armas que contava à época, medicamentos como AZT, DDI e DDC, continuou na batalha contra o HIV, até que, em 1996, caiu doente em decorrência de doenças oportunistas. “Passei três meses internada. Tive toxoplasmose, fiquei sem andar, sem enxergar. Mas queria muito lutar e não me conformei. Até os médicos duvidaram que eu sairia viva. Nem eu sabia ter tanta força”.

O que poderia ter abalado a confiança de Monica se transformou em vontade de ajudar outras pessoas. “Sempre encarei o HIV de frente e deixei de ser apenas uma paciente para virar ativista. Busquei capacitação, informação e virei voluntária no local em que eu era atendida. Tinha muita gente precisando de ajuda e estava disposta a brigar”.

Agente de prevenção, Monica sonha em acabar com os estigmas, preconceitos e até hoje briga pelo coletivo. “Dei minha cara a tapa, apareci na televisão e isso foi importante para mim e para a minha família. Continuo transmitindo minha mensagem e meu objetivo é ajudar, dar força. Muita gente dizia para minha mãe o quanto eu era forte por estar ali lutando por outras pessoas”.

Empoderamento ajuda a diminuir preconceitos:

O infectologista Fabrício Silva Pessoa, do Hospital Universitário da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), lembra que este empoderamento é essencial para pessoas vivendo com HIV (PVHIV) nesta faixa etária. “São pacientes que passaram por diversas situações nesses 40 anos. Eles entendem a importância de recorrer às medicações e da adesão ao tratamento. São multiplicadores dessas informações corretamente, inclusive para outros pacientes”. No Brasil, de acordo com Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2021, pessoas entre 55 e 59 anos correspondem a 20,1% dos homens e 10,2% das mulheres com HIV.

O infectologista reconhece que, infelizmente, o preconceito ainda ronda a vida desses indivíduos. Por isso, reforça a necessidade de fortalecer esse paciente para lidar da melhor maneira possível com situações hostis. “Além do acompanhamento médico, é preciso um trabalho individualizado para verificar se o paciente está propenso a desencadear uma depressão ou outro transtorno”.

Avanços importantes para os pacientes:

Pessoa ressalta, porém, que há muitos motivos para comemorar e que, desde o primeiro diagnóstico da doença no Brasil, na década de 1980, aconteceram muitos avanços, tanto no que diz respeito aos medicamentos, quanto ao aumento da expectativa de vida. “Antigamente, o esquema do coquetel tinha vários remédios e causava muitos efeitos colaterais. Hoje, conseguimos simplificar o tratamento com um número menor de medicações, com esquemas dois em um, três em um. Os remédios são bem tolerados, além de ter baixo efeito colateral. O resultado são os pacientes convivendo com uma patologia crônica que demanda cuidados”.

Pessoa comenta que, com o envelhecimento, é normal os pacientes desenvolverem problemas de saúde comuns da idade, como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias (colesterol alto). “As medidas de prevenção, com alimentação saudável e prática de exercício físico, são essenciais para qualquer pessoa. E para as pessoas vivendo com HIV não é diferente. O tratamento acaba sendo feito em conjunto, sem grandes impactos justamente pelos avanços da terapia antirretroviral”,

Um dia de cada vez:

Monica, que em 31 anos de diagnóstico já passou por altos e baixos, pensa sempre no futuro e não se esquece de tudo o que conquistou militando por ela e pelos outros pacientes Com a carga viral zerada (indetectável), desabafa que nem todos os dias são bons. Mesmo assim, olha para a frente.

“Às vezes, bate um desânimo. Ainda hoje vejo gente me olhando torto, fazendo comentários e isso me deixa um pouco chateada. Nosso psicológico é a todo momento confrontado, mas tenho uma rede de apoio e estou tentando me reerguer novamente, porque ainda quero concretizar muita coisa. Tenho dois netos e minha luta é por eles, pela minha família e pelo meu cachorro, o Zyon”.

FONTE: VIV A BEM (UOL)

É POSSÍVEL ZERAR A TRANSMISSÃO DO VÍRUS DA AIDS?

Há como zerar a transmissão do vírus da Aids? Sim, é possível controlar a pandemia de HIV/Aids. A cidade de São Paulo mostrou o caminho com crianças nascidas de mães com o HIV!

Das diferentes formas de transmissão do HIV, a sexual é a mais comum, além do compartilhamento de material contaminado, como seringas e agulhas. entretanto, a transmissão do vírus da mãe para o filho, geralmente na hora do parto ou durante a amamentação, constitui um expressivo problema de saúde pública mundial. Esta última é chamada de transmissão vertical.

Antes do advento dos remédios antirretrovirais ) usados no chamado coquetel de tratamento, que bloqueiam a multiplicação viral, ao redor de uma em cada três crianças que nasciam de mães que viviam com o HIV eram infectadas. Um sofrimento sem tamanho para todos os envolvidos. A descoberta de tal diagnóstico trazia impactos para todo o sistema de saúde, para a família e principalmente, para a criança que ficava suscetível a problemas de saúde graves, podendo morrer de doenças oportunistas em grande porcentagem dos casos.

Logo que surgiu, o AZT passou a ser empregado na tentativa de impedir a transmissão materna para as crianças, com resultados significativos. Entretanto, os estudos foram mostrando que era fundamental que a mãe conseguisse controlar a multiplicação do vírus com o coquetel de tratamento, principalmente no momento do parto. A transmissão vertical foi caindo com o tempo. Estavam disponíveis as armas para a prevenção de novos casos em crianças. A tarefa, contudo, não parecia tão fácil.

Como saber onde estão as mulheres grávidas que vivem com o HIV? Como fazer chegar o tratamento a todas? Como fazer com que o tratamento resulte em controle do vírus? E os recém-nascidos, como fazer com que todos nascidos de mães que vivem com HIV tomem o remédio profilático durante o primeiro mês de vida?

Os resultados positivos só seriam possíveis com ações bem coordenadas: vigilância em saúde, disponibilidade de testes para diagnóstico, acesso a serviços de saúde (já que a grande maioria das famílias brasileiras depende exclusivamente do SUS) e seguimento de longo prazo.

Foi isso que o Programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria conseguiu!

A primeira metrópole da América Latina a conseguir a certificação da eliminação da transmissão vertical do HIV, em 2019, São Paulo manteve o feito de seu programa de prevenção, atendendo em 2021 a uma série de critérios estabelecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) Esta é uma conquista extraordinária, diante das dificuldades dos programas de saúde pública durante a pandemia de Covid-19, que dificultou o acesso de gestantes à assistência médica.

Somados a outros, esses resultados nos levam a crer que a eliminação da transmissão do HIV é possível, incluindo a transmissão por via sexual!

As ferramentas estão postas: identificação das pessoas que vivem com HIV, uso de meios de prevenção de barreira ou com medicamentos e, principalmente, tratamento adequado para todos aqueles que vivem com o vírus. Desta forma, quebra-se a cadeia de transmissão e a pandemia tende a regredir. 

É o que já se percebe no estado de São Paulo, com queda no número de novos casos todos os anos!

O controle da pandemia de HIV/Aids passou a ser predominantemente uma questão político-administrativa. Embora todos esperem por novas contribuições da ciência, como medicamentos ainda melhores, vacinas e mesmo a cura, os recursos que temos, aliados à eficiência administrativa, indicam que se pode chegar lá.

O município de São Paulo nos provou que sim!

AUTOR: DR. ESPER KALLÁS

(Médico infectologista e titular de Imunologia Clínica e Alergia de Medicina da USP - Título original do artigo publicado na sua coluna: Há como zerar a transmissão do vírus da Aids?)